Alegria, alegria?

Alegria no Dicionário de Houaiss é um estado de contentamento, animação, bem-estar, bom humor, entusiasmo, prazer, regozijo e satisfação.

A alegria dos pais ao verem seu filho nascer; a sensação de felicidade momentânea no primeiro beijo; a alegria de ter um país governado por pessoas honestas, éticas, sensatas e comprometidas com o bem-estar social; alegria de ver o beija-flor abrir suas asas ao perfume de uma rosa; alegria de poder ser generoso independentemente de ser reconhecido; mais alegre ficamos quando recebemos a gratidão de alguém; o contentamento de ver uma família em torno da mesa, jantando, conversando, um servindo o outro, sem iphone, sem ipad, sem qualquer instrumento moderno que esterilize a comunicação e o afeto entre as pessoas; alegria do primeiro gol no futebol de praia; alegria de viver num pais onde não existem analfabetos, onde todos são atendidos na doença, onde a renda da população seja melhor distribuída, onde as pistas e as estradas não se pareçam com uma colcha de retalho, remendadas e não refeitas;alegria se pudéssemos comemorar menos corrupção, satisfação por ver nossos filhos serem educados politicamente nas escolas, poderem ler os clássicos da literatura brasileira e estrangeira, não em edições condensadas, substituindo e adulterando as palavras dos autores; entusiasmo ao ver as crianças não passarem fome, não adoecerem de moléstias passiveis de serem controladas se houvesse vontade política e menos desvios de verbas; alegria de ver o Brasil ser campeão da Copa América; alegria se nossos presídios não fossem um amontoados de pessoas vivendo numa promiscuidade desumana; alegria se os funcionários públicos e os aposentados tivessem seus salários atualizados; alegria se uma gestante não precisasse suplicar ser atendida por vários hospitais para ter um parto respeitoso; alegria se esse parto fosse uma parto para a vida, e não a morte da mãe e a dúvida se o bebe será salvo; regozijo se os professores ganhassem bem e os policiais não fossem usados como escudo humano na favela, supostamente protegida do tráfico; felizes estariam os habitantes de tais favelas se o governo tivesse vontade política para implantar melhorias sociais pois já estamos assistindo a falência das UPPs.

O leitor deve estar achando que meu texto é pessimista. Não vamos confundir pessimismo com realismo, ainda que esse realismo seja cruel. O fato é que, na vida da população brasileira está faltando Alegria mesmo!Vide as notícias na mídia: assaltos, estupros, homicídios, vandalismo, corrupção, falcatruas, promessas eleitoreiras, desvios de verbas para educação, saúde e habitação,obras superfaturadas nos estádios para a Copa do Mundo e tantas informações desagradáveis que podemos afirmar – nosso país está triste e não alegre!

Só me resta, caro leitor, repetir um poema tão atual do nosso poeta gauche – Carlos Drummond de Andrade:

“Os Ombros Suportam o Mundo”

“Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus./ Tempo de absoluta depuração./ Tempo em que não se diz mais: meu amor./ Porque o amor resultou inútil./ E os olhos não choram./ E as mãos tecem apenas o rude trabalho./ E o coração está seco.

Em vão as mulheres batem à porta, não abrirás./ Ficaste sozinho, a luz apagou-se./ mas na sombra teus olhos resplandecem enormes./ És todo certeza, já não sabes sofrer./ E nada espera dos teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?/ Teus ombros suportam o mundo/ e ele não pesa mais que a mão de uma criança./ As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios/ provam apenas que a vida prossegue/ e nem todos se libertaram ainda./ Alguns, achando bárbaro o espetáculo,/ preferiram (os delicados) morrer./ Chegou o tempo em que não adianta morrer./ Chegou o tempo em que a vida é uma ordem./ A vida apenas, sem mistificação”.

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