“Conduta de Vida”
Charles Baudelaire
-Grandes homens não tendo sido (…) coisas elevadas.
Seu coração (era) o trono da verdade.
Viver é a busca do poder.
Ambições desonestas não serão recompensadas.
A única prudência(…) de sua musa.
Uma decisão(…), disse Demócrito.
Pecunia alter sanguis (do latim: O dinheiro é outro sangue)…
Há tempos que os Poderes da Nação Brasileira vêm se esclerosando no esquecimento do compromisso pelo bem-estar social. É claro, muitas transformações acontecem e muitas mudanças se insinuam no sentido de uma melhoria para que a “gastança” e a voracidade possam diminuir. O combate à corrupção, a efetividade das funções da Polícia Federal, alguns Juízes corajosos e ousados, jovens de preferência, o Tribunal de Contas da União, todos juntos empreendem uma mudança considerável para evitar a manutenção da “legislação em causa própria”. Não sou contra a correção dos salários, pelo contrário, sou contra o que assistimos num momento de crise grave em todos os setores da vida pública.
Ontem, num canal de televisão ouvi a seguinte chamada do repórter: “um Ministro da Suprema Corte teria dito que os salários do Poder Judiciário estavam incompatíveis com os preços das feiras e supermercados. Ontem, o Poder Legislativo gratificou nossos Ministros e Funcionários do Judiciário com um aumento de 75%, ainda que escalonado, mas aprovou.
Não reprovo o pedido de aumento, causa espanto nesse momento que, aumentos de salários, sejam dados a uma classe e não abranjam toda a população brasileira que frequenta também feiras e supermercados.
Vivemos numa época de vacas magras, pelo menos para a maioria da população; atravessamos uma crise econômico-financeira que há tempos não vivenciávamos; somos dia a dia assaltados em nossos impostos pelo “vampirismo” da corrupção em todos os setores; não acreditamos mais nas “facilidades fantásticas” que criaram a dita “nova classe média”; essas pessoas alucinaram um poder aquisitivo que morreu antes de chegar à praia; as dívidas são enormes, a inadimplência toma conta da população; impostos crescendo, educação subsidiada enxergando que após suas formaturas, os jovens não terão como bancar aos bancos. Será que estamos nos perdendo em “mares gregos” e voltaremos ao “cruzeiro novo”?
“Grandes homens não tendo sido(…) coisas elevadas”, canta em verso o nosso inquieto, criativo, necessário e atual Baudelaire!
Inocente que sou em ciência econômica, raciocino pelo bom senso: Já que o arrocho é necessário, ainda que não seja culpa da população ( a única culpa é ter votado nos “representantes” que estão no Poder), “as teorias e planos sobre a vida são belos e louváveis; –mas estará disposto?”, novamente cantam os versos de Baudelaire. Foi-se o tempo em que grandes homens se reuniam para pensar essa Nação nos vários setores da sociedade! Cadê os Conselhos de pessoas preocupadas com as condições sociais do brasileiro? Os juristas, intelectuais, artistas, estudantes, políticos, ministros, religiosos, e mesmo alguns que estão no Poder, não existem mais? Será que estamos gravemente doentes de um “Individualismo Perverso”, preocupado em acumular riquezas, facilitar melhorias de uma minoria, retirar o máximo possível de recursos públicos para benefícios próprios? A grande patologia dos tempos atuais é um “vampirismo crônico”, vampirismo que aumenta as diferenças e estimula a Inveja alheia, tendo como consequência roubos, assaltos, vandalismos, ressentimento, ódio e revolta.
Termino essa pequena crônica de hoje, mais uma vez citando Charles Baudelaire em seu belo, profundo e instigante livro: “Diários Íntimos”(Edições Caminho de Dentro);
“Meu coração desnudado”
“Política.
Eu não tenho convicções, como as entendem as pessoas do meu século, porque não tenho ambição.
Não há, em mim, base para uma convicção.
Há certa covardia ou, sobretudo, certa moleza nas pessoas honestas.
Os bandidos são os únicos convencidos — de que? Que lhes falta ter sucesso. Assim eles têm sucesso.
Como obter sucesso, já que eu mesmo não tenho vontade de exprimentar?
Pode-se fundar impérios gloriosos sobre o crime, e nobres religiões sobre a impostura”.