Ecos do Século XVII e XVIII

“Temos, assim, um Rei que vaga pelo vão do esplendor dos salões gigantescos de seus palácios, seguidos habitualmente por ávidos caçadores de cargos públicos, os quais vivem da renda arrecada dos camponeses que não vivem em melhor situação do que o gado dos campos. É uma situação feia, e não estamos exagerando. Esse “Antigo Regime” teve, porém, um outro lado que não podemos esquecer”. Uma classe média abastada e vinculada à nobreza (pelo processo normal: a filha do banqueiro rico casa-se com o filho do barão falido) e uma corte composta das pessoas mais divertidas e interessantes da França haviam levado a nobre arte do viver ao seu mais elevado grau de desenvolvimento.” (Hendrik W. van Loon, in: “A História da Humanidade”, Editora Martins Fontes, 2004

A vida do rei e da rainha, donos absolutos do poder era rodeada, naquela época de servidores do reino e favorecedores de mais opulência e riqueza. Evidentemente alguns assessores do império se beneficiavam das vantagens através de cargos, até que, por puro e simples tédio e pela falta de coisas importantes para fazer, todo esse mundo artificial de Versalhes. Era o grande estilo do governo de Luís XIV (o grande palácio-cenário de Luís XIV construíra a certa distância de sua cidade barulhenta e inquieta) já não se falava mais nada exceto que menos tinham a ver com aquela vida – do mesmo modo que um homem esfomeado não fala mais de nada exceto de comida. Não é nada diverso do que nossa situação atual, onde os governantes e donos dos poderes políticos da “Brasília-Versalhes” alimentam-se da sua comida voraz, draculiana, vampiresca, onde o fim é o próprio benificio e não a felicidade e melhores condições de vida da população.

O que mudou? A história se repete, os reinados se transfiguraram em regimes presidencialistas (o rei e seu assessores) distantes da vontade popular ávida por melhores condições de educação, saúde, habitação, renda digna e redistribuição dos dízimos pagos, através dos impostos, para retornarem em prol do crescimento e desenvolvimento da comunidade. Os tempos brasileiros de hoje parecem com a velha frase “O Estado sou Eu”.

Abro nesta semana os jornais, e os temas com a volta das “férias bem remuneradas” dos nossos representantes prosseguem a metáfora do século XVII e XVII: Novas comissões de inquérito por necessidade e também por vingança; volta ao tema do Impeachment; prosseguimento do escândalo da Lava jato; convocação, já não era tempo, de ministros do núcleo presidencial; repensar(?) os aspectos corruptos do Lobby entre interesses e política; possibilidade de vetar o nosso destemido e corajoso Janot e a espera de mais uma “marcha nas ruas”, marcada para breve.

“Quando Voltaire – velho e corajoso filósofo, dramaturgo, historiador e romancista, grande inimigo de toda a tirania política e religiosa – começou a lançar bombas de sua crítica sobre todas as coisas que tinham relação com a Ordem Estabelecida, o mundo francês aplaudi-o em uníssono e suas peças teatrais eram apresentadas para platéias lotadas.” O mesmo acontecia com J.J.Rousseau lutando pela educação e posteriormente por seu “Contrato Social”, atitude que, lágrimas foram derramadas, pois estava aí a proposta de que “a verdadeira soberania poderia estar nas mãos do povo e quando o rei não fora mais do que um servo do seu povo.” Com isso, inspirados na Inglaterra, os poderes executivo, judiciário e legislativo fossem separados e funcionassem independente uns dos outros.

Pobre Brasil do século XXI, onde a democracia ainda adolescente parece se deteriorar na confusão das funções dos poderes. O sistema político perdeu sua função de representar a população votante; o judiciário, ainda que começam estertores jovens querendo colocar a casa em ordem, são mesclados pelo interesse do executivo e o legislativo parece mais com a maioria e claro, súditos do “rei” legislando em seu próprio interesse. “A multidão costuma aparecer quando ocorrem revoluções, mas sempre é movida e comandada pelos profissionais de classe média que usam as massas famintas como eficientes aliadas na guerra contra o rei e a corte”.

Onde estão os nossos líderes da classe intelectual, das universidades, dos movimentos culturais? Onde estão os Velosos, os Gils, os Buarques de Holanda que sabiam compor gritos belíssimos de música e letra quando éramos oprimidos pela ditadura? Onde estão os nossos empresários, os professores, a juventude acadêmica? Os conselhos de pessoas idôneas?

Sou obrigado a pensar que a época é de “AUTISMO POLÍTICO”, onde quem sabe, essas pessoas que um dia gritaram com os Miltons Nascimentos da vida as “diretas já”, se encolheram no compromisso político e social das Artes

Conversa
Poema de Bukowski ( recorte)

“Escute, ele me disse, eu quis escapar das crueldades
Que derrubam e matam a maior parte das pessoas nesta fortuidade
Contemporânea que chamamos existência.
Me fale a respeito, eu Respondi.
Bem, os cães do tempo estavam atrás de mim e a música ruim e a comida estava envenenada e as prisões superlotadas”.

 

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