Qual o futuro dos jovens profissionais?

Recentemente li um belo livro do professor Richard Sennet, nascido em Chicago em 1943, docente de Sociologia da London School of Economist e do Massachusetts Institute of Technology. Richard Sennet é famoso por seu livro, agora esgotado no Brasil – “O Declínio do Homem Público. Inspirado nessa leitura me coloquei a pensar sobre qual será o futuro dos profissionais jovens e mesmo daqueles mais experientes em nosso Brasil.

Certa ocasião encontrei um jovem advogado, 33 anos, Juiz Federal, pessoa bem-sucedida, após tentar vários concursos públicos de âmbito federal. Dizia-me ele:” Vivo muito bem, trabalho num Tribunal, faço com afinco minhas seis a sete horas de jornada, saio, malho impiedosamente, tenho um relacionamento sem muito compromisso, jogo tênis três vezes por semana, não sou aficionado à leitura e às artes, no máximo vejo alguns filmes na TV, e viajo bastante em períodos de férias curtas. Sou fascinado por Miami, onde compro muitos objetos pessoais de consumo, às vezes objetos que fazendo uma reflexão, não tenho necessidade, é puro consumo. Acredito que sou um jovem estabilizado profissionalmente, com uma aposentadoria garantida(?). A questão é que venho tendo sintomas de depressão, não muito grave; vez por outra sinto algo parecido com a bendita “síndrome do pânico”.

Alguns minutos foram suficientes para que eu pudesse constatar que estava diante de um “estereótipo” de jovens, classe média, média e alta, formados universitariamente, com “mestrado sanduíche” e sem nenhuma formação cultural nem senso de capacidade para administrar financeiramente sua vida. Um típico consumista, vida afetiva realmente vazia, dificuldades enormes de fazer vínculos amorosos e uma vacuidade existencial lembrando uma célebre frase de Karl Marx —“Tudo que é sólido desmancha no ar”. Freud e o próprio Marx, leituras imprescindíveis que as escolas, independente de facções ideológicas que não ensinam, criam “O mal estar das civilizações”, cada um com seu referencial, mas com uma apreensão psicológica, filosófica, política e humanística quando se trata de unir o micro e o macrocosmo da história da humanidade.

Vejamos o que escreve o professor Sennet em seu livro: “A Cultura do Novo Capitalismo, livro atualíssimo, publicado em 2006 e traduzido para o português em 2013, Editora Record”. Só um certo tipo humano é capaz de prosperar em condições sociais instáveis e fragmentárias. Esse homem ou mulher ideal tem de enfrentar três desafios. Primeiro, diz respeito ao tempo: como cuidar de relações de curto prazo, e de si mesmo, e ao mesmo tempo estar sempre migrando de uma tarefa para outra, de um emprego para outro, de um lugar para outro… O segundo desafio diz respeito ao talento: como desenvolver novas capacitações, como descobrir capacidades potenciais, à medida que vão mudando as exigências da realidade… talento também é uma questão de cultura… Disto decorre o terceiro desafio, que vem a ser uma questão de abrir mão, permitir que o passado fique para trás”.

Tempo, talento e capacidade de renovação, condições essenciais se os nossos jovens acreditarem que o “Futuro de uma Ilusão” seja a aposentadoria profissional e da vida mesma.
Nosso país, tal como outros tantos, esquecem que a realização humanista, que os maiores momentos de felicidade e até de conforto material não são perenes nem asseguram uma vida psíquica, íntima, interna, de boa qualidade. Vide a angústia da pós-modernidade, caracterizada no jovem profissional acima citado! Já faz parte das pessoas mal fadadas a frequentar o “vício dos antidepressivos”, e a perambularem os consultórios psicoterápicos e psicanalíticos sem muita crença. A experiência psicoterápica e psicanalítica exigem mentes de natureza reflexiva, meditativa! Pressa têm, de alucinar métodos terapêuticos milagrosos, curtos de frequência, executivos em suas técnicas, mas pobres na capacidade de fornecer, a partir da experiência vivida, uma consistência de uma vida psíquica que de “sólida” se dissolve no “líquido estilo de Ser”.

Encerro esse escrito de hoje, lembrando um longo período escrito por Marcel Proust em sua capacidade e sabedoria a respeito de uma intenção sobre sua infindável obra “A la Recherce du Temps perdu”. “Mas para voltar a mim mesmo, pensava mais modestamente no meu livro, e seria até mesmo incorreto dizer que estava pensando naqueles que o leriam, nos meus leitores. Porque eles não seriam, segundo penso, meus leitores, mas os próprios leitores de si mesmo, não sendo o meu livro senão uma espécie dessas lentes de aumento como aquelas que o óptico de Combray apresentava a um comprador; meu livro graças ao qual lhes forneceria o meio de lerem em si mesmo”.

O futuro dos nossos jovens repousa na coragem, ousadia, astúcia e sabedoria de juntar todos esses valores, para desenvolverem capacidade de lidar com um mundo atual, frágil, fragmentado, sem soluções ideológicas definidas. Estamos a cada dia perdendo o sentido que o professor Sennett nos adverta: FÉ – NAÇÃO—CLASSE. Estamos todos em busca de uma solução nova, de uma organização capaz de incluir a fragilidade, a inconstância do mundo atual, sem repetir métodos absolutistas, racionalistas que sempre repudiaram a natureza “espiritual” e moral. Compartilhemos com o nosso Luiz Felipe Pondé em sua 2ª. Edição de —-“Filosofia para Corajosos”, Editora Planeta, 2ª.edição, quando no início cita F. W. J. Schelling ( “A essência da liberdade humana”):

“Tal é a tristeza inseparável de toda a vida finita, uma tristeza, porém, que nunca se torna realidade e serve tão só para dar alegria eterna de a superar. Dela vem o véu de pesar que se estende sobre toda a natureza, a melancolia profunda e indestrutível de toda a vida.

Apenas na personalidade há vida; e toda a personalidade se assenta num fundamento sombrio, que, não obstante, tem também de ser de fundamento ao conhecimento”.

 

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