Alter – 2010/1 – Virgínia Bicudo – IPA – 100 anos

SUMÁRIO & RESUMOS

Carta da editora – Ambrozina Amália Coragem Saad
Editorial a convite – Silvia Helena Dutra de Carvalho Heimburger


100 anos de Virgínia Leone Bicudo e 40 anos de Alter

Culpa persecutória e restrições do ego: Caracterização de uma posição pré-depressiva – Virgínia Leone Bicudo
Resumo: O processo que descrevo como culpa persecutória refere-se a uma situação particular subseqüente à projeção da culpa no objeto e negação da culpa no self. Como conseqüência, o paciente sente-se perseguido pelo objeto, que “injusta” e agressivamente introduz nele a culpa como uma forma de obrigá-lo a incluir libidinalmente o objeto em seus prazeres, benefícios, recursos e sucessos.
O objetivo deste trabalho é chamar a atenção para a ocorrência de outra solução intermediária entre o avanço à posição depressiva e o retrocesso à esquizoparanoide. Os pacientes que observei, após uma diminuição de suas ansiedades paranoides, embora ainda incapazes de suportar as ansiedades depressivas, protegiam-se delas utilizando mais uma vez os mecanismos de cisão e identificação projetiva, agora, entretanto, para lidar com a culpa. Assim, em lugar de sentir culpa pelas agressões e danos feitos em fantasia a si mesmos e a seus objetos, sentem-se ansiosos e desesperados ao enfrentar um objeto cujo único propósito é forçá-los a sentir culpa, não merecedores de nada de bom e compulsoriamente obrigados a dividir suas posses com eles, os objetos.
A luta do paciente implicado na culpa persecutória objetiva encontrar um refúgio de dois tipos de perigo: o de uma nova regressão à posição esquizoparanoide primitiva e o de um avanço e enfrentamento da culpa depressiva. A regressão à posição esquizoparanoide corresponde à perda das posses e gozo de certas capacidades do ego já obtidas, enquanto que o avanço à posição depressiva é antecipado com ansiedade a partir de um sentimento de culpa, percebido como irreparável, irreversível, imutável e muito além das capacidades do ego de suportá-lo. O aplacamento do objeto é um compromisso que o ego faz como uma tentativa de se proteger das ansiedades que provocariam uma regressão mais profunda ou uma evolução à posição depressiva. Abrindo mão de suas capacidades, o ego almeja beneficiar e aplacar os objetos, ao mesmo tempo em que se liberta da tarefa de lidar com seus próprios sentimentos de culpa e necessidade de reparação.
Cada passo sucessivo logrado é seguido de uma culpa persecutória de maior ou menor intensidade, dependendo da quantidade de sadismo envolvido. A culpa persecutória aparece em seguida a processos de integração do ego, e evolui para culpa depressiva somente quando o ego, com maior maturidade, torna-se capaz de estabelecer relações com objetos totais. Entretanto, quanto mais intensa for a ansiedade, aliada à culpa persecutória, mais o caminho para uma melhor integração estará impedido. A regressão a um estado esquizoparanoide mais primitivo ou a uma falsa reparação são indicações de dificuldades emocionais provocadas pela intensidade da culpa persecutória em operação.
O ressentimento do ego, sentindo-se injustamente acusado pelo objeto de ser uma pessoa incapaz de cuidar e sentir gratidão, é o sentimento mais característico da culpa persecutória. Toda a diminuição das ansiedades esquizoparanoides no tratamento é primeiro utilizada para a reintegração das capacidades do ego. Acredito que somente após esta reparação “restituidora” das capacidades do ego ter ocorrido, o ego estará em posição de utilizar seus recursos para a reparação do objeto.
Concluindo, descrevi uma posição intermediária que denominei “posição pré-depressiva”, conectada a um ego perfeccionista e caracterizada por culpa persecutória, que é ligada aos mecanismos de identificação projetiva, aplacamento e detração do objeto.


– Alter -Jansy Berndt de Souza Mello
Sem resumo


Virgínia Leone Bicudo – pioneirismo e criatividade – Ronaldo Mendes de Oliveira Castro
Sem resumo


IPA – 100 anos

História da Psicanálise da IPA no Brasil – Regina Lúcia Braga Mota
Resumo: A autora discorre sobre a história da Psicanálise da IPA no Brasil, desde seus primórdios até os dias de hoje e sua inserção na cultura. Ressalta que características da população brasileira facilitaram a assimilação das ideias inovadoras de Sigmund Freud, além do acolhimento de analistas didatas estrangeiros. Mostra o aumento significativo de novos Núcleos e Grupos de Estudos de Psicanálise, relatando o processo de constituição de cada uma das Sociedades filiadas à IPA.
Palavras-chave: História da Psicanálise; Psicanálise da IPA; Psicanálise brasileira.


Pessoa e presença do analista – Cláudio Laks Eizirik
Resumo: O autor discute alguns aspectos da pessoa do analista, da situação analítica, do campo analítico, do ciclo vital do analista e de sua presença como objeto de transferência e pessoa real no trabalho analítico. A partir do trabalho de vários autores e de sua experiência clínica, destaca a crescente importância da mente do analista em seu trabalho clínico, bem como a relevância do conceito de campo analítico.
Palavras-chave: campo analítico; pessoa do analista; relação analítica.


Artigos

Sonhos, semiose e interpretação: os sonhos nos processos clínicos contemporâneos – Jorge Canestri
Resumo: Neste trabalho se sustenta que os sonhos seguem sendo um autêntico shibboleth, mesmo na psicanálise pós-freudiana. De qualquer forma, é igualmente claro que o estudo dos sonhos nos processos clínicos contemporâneos introduziu algumas novidades e aperfeiçoamentos. Entre esses, neste trabalho mencionam-se: os sonhos no processo psicanalítico, os sonhos evacuatórios, sonhos e “loucura”, assim como os sonhos nos pacientes seriamente traumatizados. Alguns problemas conceituais na teoria psicanalítica, que derivam das novidades acima citadas, são brevemente investigados. O trabalho desenvolve duas áreas que se colocam na fronteira e na intersecção entre a psicanálise e outras disciplinas, no caso, a neurociência e a semiótica. A partir do ponto de vista da semiótica, e de acordo com as teorias de Ch. S. Peirce, os sonhos podem ser considerados como signos inseridos em um contínuo processo de semiose psíquica. A conceituação dos instrumentos que a psicanálise pode construir para organizar um diálogo com essas disciplinas parece promissor.
Palavras-chave: semiose; neurociência; sonhos evacuatórios; sonhos e processo psicanalítico; sonhos e psicose; sonhos e trauma; Ch. S. Peirce.


Metamorfoses de A interpretação dos sonhos: As relações conflituadas de Freud com seu Livro do Século – Ilse Grubrich-Simitis
Resumo: A autora vale-se do centenário de A interpretação dos sonhos, na virada do século vinte e um, como o momento para a reconstrução das metamorfoses da obra magna de Freud, tais como são reveladas em suas relações mutantes e conflituadas com o livro ao longo de sua vida. Traça as vicissitudes dessa relação, desde o período da gestação do trabalho ao final do século dezenove, por edições publicadas ao longo da vida de Freud, distinguindo várias fases da teoria psicanalítica. Especial atenção é dada às mudanças na estrutura e estilo do trabalho nas sucessivas edições, à distância inconstante adotada por Freud entre ele próprio e seu “livro do século” e ao papel atribuído a seus colegas na evolução da obra. É apontado que o próprio Freud considerava que a psicanálise se originara com a publicação de A interpretação dos sonhos e que ele sentia, em seus últimos anos, que o interesse de seus colegas nos sonhos e em sua interpretação estava declinando. A autora conclui com uma breve consideração do significado da interpretação dos sonhos na prática e teoria atuais da psicanálise.
Palavras-chave: Freud; psicanálise; história da psicanálise; sonhos; A interpretação dos sonhos; metapsicologia.


A prática psicanalítica revisitada – Fanny Schkolnik
Resumo: Este trabalho destaca o fato que a prática psicanalítica atual realiza-se em um mundo muito diferente daquele do final do século XIX e início do século XX, com um manejo diferente de tempo e de espaço, dos ideais e pautas culturais em relação à sexualidade, assim como mudanças na estrutura da família e da sociedade nos seus diferentes aspectos. Nesse contexto, a autora propõe-se interrogar e, sendo necessário, reformular os conceitos teóricos fundamentais nos quais se sustenta a tarefa da análise, assim como os pilares do método que constituem a base da técnica. Ao mesmo tempo, destaca o corte epistemológico que se estabelece a partir de Freud a respeito dos conceitos de saúde e doença e a concepção do sujeito que subjazem às formulações mais significativas baseadas na proposta freudiana e permanecendo como fundo comum das diferentes reformulações da teoria e da clínica que surgiram a partir de autores posteriores.
Palavras-chave: método psicanalítico; analisabilidade; inconsciente reprimido; inconsciente cindido.


As referências identificatórias na estruturação da vida psíquica – Luís Carlos Menezes
Resumo: A problemática clínica relacionada com as identificações narcísicas primárias e secundárias é discutida com base nas concepções de Freud, Ferenczi e Winnicott. Este tema é tratado tendo como referência a análise de uma mulher que se via com grande perplexidade em sua vida, suas experiências e suas realizações, sentindo-se despossuída delas. O apego a uma mãe depressiva e sensual que lhe teria barrado as possibilidades de se apropriar de suas fantasias e desejos, mostra-se particularmente tenaz ao longo da análise.
Palavras-chave: histeria; sexualidade feminina; identidade e identificações.


Perlaborar e mudança catastrófica – Cecil José Rezze
Resumo: Estuda-se perlaborar e a sua mudança de significados por meio dos trabalhos de Freud e outros autores. O conceito torna-se obscuro devido à sua enorme expansão. Mudança catastrófica é usada para investigar o tema, juntamente com os conceitos de aprender com a experiência emocional, fresta, reversão de perspectiva, transformação em alucinose e transformação em O.
Palavras-chave: perlaborar; mudança catastrófica; experiência emocional; fresta; reversão de perspectiva; transformação.


A blind date: amor, ódio, paixão e sexualidade no divã – Ana Rita Nuti Pontes e Luciana Marchetti Torrano
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo discutir o amor, a paixão e a sexualidade, expressos no campo analítico sob a forma erótica, pornográfica e obscena, como uma experiência estética (Meltzer, 1994). Temos como pressupostos básicos que há na relação analítica a criação de um campo referente à soma das mentes analista/analisando em busca de um encontro íntimo. Cada encontro é, portanto, único, e pode ser tão sublime quanto a mais delicada e envolvente relação amorosa, ou então tão avassalador quanto uma tempestuosa paixão, ou ainda tão assustador quanto pode ser uma relação perversa; configurando-se como um encontro repleto de surpresas o qual chamamos: “encontro às escuras”. A psicanálise baseia-se na tolerância emocional ao amor e ao ódio que evoca uma tensão emotiva sobre a qual é criado um espaço “cintilante com significado” (Meltzer), definido por Bion como “espaço estético” (Williams, 2008). Seguindo esta ideia, utilizaremos três fragmentos clínicos com a proposta de travar um diálogo e ampliar a conversa acerca da sexualidade da dupla e os caminhos interpretativos possíveis para nos mantermos vivos junto ao paciente mesmo em momentos nos quais podemos nos sentir tocados pela confusão entre o privado e o secreto, que constitui o núcleo de negação da vida psíquica. (Meltzer, 1989, p. 199)
Palavras-chave: campo psicanalítico; conflito estético; sexualidade; contratransferência; intimidade; erotismo.


Pedro no portal do tempo: um encontro – Eva Maria Migliavacca
Resumo: Este é um trabalho essencialmente clínico. Apresento nele o relato de um encontro com um adolescente de quatorze anos, no qual ele se deu conta de conflitos relacionados a seu processo de crescimento. Em emocionante momento, Pedro conta um sonho que abre caminho para a experiência do insight. Acrescento comentários sobre as condições mentais do analista para o encontro com o psiquismo do outro.
Palavras-chave: Psicanálise; função analítica; adolescência; empatia; insight.


Formação

Saudação às Candidatas da 1ª Turma de Formação em Psicanálise do NPG – José Vieira Nepomuceno Filho


Resenhas

– Rumor na escuta: ensaios de psicanálise 
Autor: Luiz Meyer
Resenhado por: Eliana Cunha Machado


– Flutuando atentamente com Freud e Bion
Autor: Paulo Marchon
Resenhado por: Lycia Schettini


Transtornos da identidade de gênero na infância – Escritos Selecionados
Autor: Roberto Barberena Graña
Resenhado por: Patrícia Tamm Rabelo


As diversas faces do cuidar – Novos ensaios de psicanálise contemporânea
Autor: Luís Cláudio Figueiredo
Resenhado por: Isa Maria Lopes Paniago

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