Vivemos hoje num mundo de governantes poderosos, líderes, que desfilam em suas posturas uma atitude permanente de arrogância, estupidez e burrice mental. A população mundial anda partida, sofrida, escravizada, deteriorada como consequência dos atos absurdos de governos “esquizofrênicos”, fragmentados, atolado em seus Narcisismos destrutivos. Ninguém revela em seu coração a mínima postura e sentimento de compaixão, ao contrário, o uso do Poder se resume em falcatruas, roubos, corrupções, uso do dinheiro público em benefício próprio, ausência de sentido ético através de um comportamento exclusivamente polimorfo perverso.
Nosso tempo ainda navega num poema do Sec. XX, meados dos anos 1900, onde Carlos Drummond de Andrade, em sua fase política por excelência, escreveu em “Nosso Tempo”, poema dedicado a Oswaldo Alves: “Este é tempo de partido,/ tempo de homens partidos”. Em 1940 e quarenta, o nosso poeta “gauche” escrevia outro poema —“Congresso Internacional do Medo”, e lá dizia: “Provisoriamente não cantaremos o amor,/ que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos./ Cantemos o medo, que esteriliza os abraços,/ não cantaremos o ódio porque este não existe,/ existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,/ o medo dos grandes sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,/ cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,/ cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,/ depois morreremos de medo/ e sobre nossos túmulos/ nascerão flores amarelas.”
O que faz um poeta ou um escritor ser clássico é a sua capacidade de ser atual em qualquer tempo. Drummond descreveu nesse poema o que hoje vivemos, no Brasil e em todo mundo. Desespero, fome, imigrantes sofridos e doídos, crianças abandonadas, países que não se comprometem com a consequência dos que eles plantaram: homens e mulheres sem lar, abandonados em condições subumanas, mortos nos oceanos, mortos nas guerras, crianças sem esperança de sobrevivência. Simultaneamente, políticos, presidentes, ditadores, governos populistas tanto de esquerda e direita alucinadas, delirantes através dos poderes que têm, roubando, distribuindo o dinheiro dos impostos entre si, sem nenhuma capacidade humana de sentir culpa e compaixão. As bocas dessa gente são o que alguém um dia me falou: “são bocas oceânicas”, de uma voracidade, avidez, canibalismo e vampirismo sem medida. Tem razão Drummond quando fala do “medo dos ditadores e dos democratas”.
A arrogância, o narcisismo mortífero, a estupidez, a pretensiosidade maléfica, a cegueira psicótica, o desprezo e a falta de responsabilidade e sentimento de culpa, todos esses fenômenos psíquicos das mentes psicóticos elaboram e desenvolvem um grande “Delírio de Grandeza”. Aí vamos falar em reformas? Não há possibilidade de reformas quando os governantes se acham oniscientes, onipotentes e onipresentes!
O pensador, santo, teólogo e doutor da Igreja, São João da Cruz, em seu belo e profundo poema: “Coplas feitas sobre um êxtase de alta contemplação”, convoca a todos nós humanos à reflexão e meditação da humildade, da compaixão e do amor ao próximo. Alguns leitores devem achar uma “balela” romântica nos dias de hoje; outros, poucos, terão a capacidade de intuírem a metáfora poética desses versos:
“Estava tão embebido,
Tão absorto e alheado,
Que ficou sem sentido
De todo sentir privado,
E o espírito dotado
De um saber desconhecendo,
Toda a ciência transcendendo…
E é de tão alta excelência
Este supremo saber,
Que não há poder ou ciência
Que o podem empreender;
Quem se consegue vencer
Com um não saber sabendo
Irá sempre transcendendo”.
Estamos longe desse Humanismo, dessa capacidade de não saber para criar o Novo, outro arranjo político e social. É tempo de refletir as capacidades destrutivas dos homens que lideram e liderarão (o novo Nacionalismo). Estamos com uma nova guerra mundial anunciada a cada dia, pois “esse é tempo de partido, de homens partidos” como disse o nosso Itabirano Drummond.