E abertamente entreguei meu coração à terra séria e doente, e muitas vezes, na noite sagrada, prometi amá-la fielmente até a morte, sem medo,
com uma pesada carga de fatalidade, e não desprezar nenhum de seus enigmas.
Dessa forma, liguei-me à fatalidade por um elo mortal.
Holderli em “A morte de Empédocles” (citação de Albert Camus em seu livro – O Homem Revoltado.
Desde Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e seus companheiros, Camus, Heidegger, Merleau Ponty e outros, a França viveu a época do surgimento do Existencialismo, filosofia preocupada com a liberdade, o amor, o ser-no-mundo e a angústia na náusea e da esperança e desesperança na humanidade.
Hoje, recorto de um recente livro de Albert Camus, 11ª. ed, tradução de Valerie Rumjaneck, fragmentos de um capítulo “A Execução do Rei”.
Saint-Just (1767-1794), aspirante a literário, pensador e político revolucionário, francês é citado por Camus como o homem que introduziu as ideias de Rousseau. “No processo do rei, o essencial de sua argumentação consiste em dizer que o rei não é inviolável e deve ser julgado pela assembléia, não por um tribunal”… “O espírito com que julgaremos o rei será o mesmo com que estabelecemos a República”. Saint-Just coloca, ainda escreve Camus, como axioma que todo rei é rebelde ou usurpador. Ele é rebelde contra o povo, cuja soberania ele usurpa. A monarquia não é de modo algum um rei, “ela é o crime”. Não um crime, mas o crime, diz Saint-Just, isto é, a profanação absoluta. Esse é o sentido preciso e ao mesmo tempo extremo da expressão de Saint-Just, cujo significado foi ampliado em demasia. “Ninguém pode reinar em demasia” “Ninguém pode reinar inocentemente”.
Recolho esses fragmentos do livro de Camus com uma profunda metáfora que se insere nos dias atuais; tanto em nível universal como processos “políticos” encontrados em vários países, inclusive na América Latina. Vivemos “reinados” tanto travestidos de pseudo-democracia como de populismo assistencialista com o objetivo de “reinar em demasia”. Esses “reinados” vêm desenvolvendo o abuso do roubo, da corrupção, das fantasias de exterminar o mundo, de controlar cada dia mais a força de trabalho para a manutenção de riquezas absurdas. Vivemos a cegueira da arrogância e da voracidade de grupos de pessoas nos vários poderes, cegos à demanda popular e a responsabilidade social de reduzir as diferenças entre a população.
Remeto o leitor a um a série de artigos de Freud, em sua obra completa “Tipos psicopáticos no palco” ou a leitura/releitura da “Divina Comédia” quando Dante desce ao Inferno e encontra lá uma população de caracteres semelhantes aos ainda não condenados e os já condenados pela Justiça.
Camus e Sartre precisam ser relidos, lembrando os mesmos, como clássicos, que o mundo não mudou ou regrediu para estados de “náusea”, “vacuidade”, “depressivos”, “suicidas e homicidas”. Esperemos que após esse caos atual, o rei e seus seguidores terminem em espaços desérticos, cegos, assim como o Rei Édipo pagou pelo seu crime da arrogância em destronar seu pai (Rei) e ser responsável pela destruição de Tebas. E daqui a pouco exista uma Política comprometida com os anseios e direitos humanitários de qualquer população!