Amar-odiar, criar-destruir, preto-branco, desespero-esperança, ser-não ser, são conjuntos naturais que habitam o funcionamento mental. Há entre nós uma força que puxa para o repouso e outra que quer criar, produzir, trabalhar, expandir e crescer.
Essa ambivalência sempre existiu e existirá, compete a nós, termos a tarefa de lidar com o conflito e não, querer se livrar dele. E como isso pode ser elaborado? Temos, todos nós, uma parte herdada e outra introjetada pela cultura, e agora podemos falar de maior ou menor tolerância às frustrações. Temos, ao contrário dos ditos animais inferiores, o bendito Desejo, tanto inconsciente como consciente. Desejar é buscar satisfação e nem sempre isso é viável, mas é uma força muito poderosa. A mente humana procura obstinadamente a realização dos seus desejos e a manutenção do “princípio de prazer” como sempre nos advertiu S. Freud.
Parece que nosso mundo atual tem mostrado uma excessiva intolerância à frustração, à não realização de desejo, à “castração”, ao impedimento. Tudo isso borra a noção de limites e daí nasce os atos psicopáticos e psicóticos, tanto ao nível individual como grupal. O que se exige, é tudo para ontem, como um bebê que não pode brincar em seu berço enquanto sua genitora prepara a mamadeira.
A cultura ficou muito egocêntrica, exigindo imediatas satisfações, caso contrário eu quebro, arrebento, roubo, tráfico, perverto e entro na lista dos corruptos e corruptores. O maior exemplo disso é a uma atitude generalizada de ódio, um ódio destrutivo, mortífero, assassino, narrado diariamente na mídia.
Num profundo e doloroso livro de Dostoievski, “Memórias do subsolo”, Heitor O. de Macedo cita o autor russo quando se refere ao ódio da humanidade e de si próprio. Vejamos a citação: “Trata-se de uma narrativa sobre a volúpia, o prazer. Mas prazer de quê?, interroga-se a personagem. Aliás – diz ele- foi para compreender em que consiste essa volúpia, esse prazer, que ele tomou da pena. Em um primeiro nível pode-se dizer que se trata da volúpia do ódio. Odio a si mesmo, ódio do outro.
Um homem mau, um homem doente….O ódio ao outro e ao mundo também engendra um pensamento. Seu caráter destrutivo, assassino, apresenta a nervura do real em seu aspecto obsceno, ignóbil, aterrorizador. Como seu vigor se baseia em certezas paranoicas, esse pensamento é igualmente estéril, igualmente inutilizável pelo sujeito”.
Deixo o leitor com o convite de ler ou reler o livro de Dostoievski e meditar quais as saídas e alternativas para uma sociedade menos destrutiva, que use sua capacidade amorosa(?) e seu pensamento, no sentido de resgatar a humanidade.
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