Momentos de turbulência!

Marchas, protestos, ânimos acirrados, discursos absolutistas, medo, receio de agitações sociais, descrença, falta de líderes, ausência de políticos de bom senso sem disponibilidade para exercer sua profissão com alcance social, promessas não cumpridas, falta de uma política que implique reformas; mentiras, roubos, assaltos, corrupção. Aumentos, fracassos de programas sociais, obras paradas, surtos epidêmicos e endêmicos de doenças não cuidadas, estradas esburacadas, grave crise energética, inflação se elevando, dívidas governamentais e da “classe média”, justiça atônita com atitudes ambivalentes, partidos políticos partidos, fragmentados, incoerentes, falidos.

“Quando o sol do dia se transforma em flor de fogo, se deitam em alucinados tapetes na aragem e vão abrindo seus desejos sob o feltro das tendas e sombreando o seu deserto de imagens”… os muçulmanos antigos sonhavam/ e destituiam políticos./ sonhavam e libertavam os amigos./ Sonhavam e pagavam dívidas./ E houve uma cidade/ que de tanto sonhar inteira,/ inteira se libertou./ Então me indago do que sonhará meu povo/ se sonha pouco o meu povo/ se sonha o meu fraco povo”.

Versos intrigantes do nosso poeta Affonso Romano de Sant’Anna, em seu poema “A Arte de Sonhar”.

Temos espaço para sonhar atualmente? Quando se está dentro de um pesadelo não se sabe que é pesadelo, é real! Mas não estamos dentro de um pesadelo, não. Estamos vivemos uma realidade que requer novos políticos, homens de consistência ética, de compromisso com o social. O que vemos ainda são grupos de políticos e governantes perpetuando uma cultura dos “coronéis” do Sertão.

Ouçamos Guimarães Rosa na fala de Riobaldo: “Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determinaram — era o Demo. Povo pracóvio. Mataram. Dono dele nem sei quem for… Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem —- ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos… o diabo na rua, no meio do redemunho”.

Volto ao poema de Affonso Romano: “penso:/ vai ver que sonhamos certo/ e errada é a interpretação/ ou será que sonhamos sonhos/ que não têm realização?  Déspotas!/ Melhor não rir dos sonhos do poeta,/ que um deles, estando preso/ após compor uma epopéia sobre um exército de macacos,/ foi libertado por sua armada imaginária/ que convertendo o velho sonho num real novo/ invadiu o reino e a torre/ e o arrebatou/ para um convívio simples do seu povo”.

Duzentos anos de República, entrecortada por golpes e ditaduras, seguram uma democracia ainda jovem, onde o maior defeito é a intolerância com as diferenças. Somos um povo ainda jovem de maturidade política; somos um povo onde seus governantes temem a consequência da Educação; somos uma nação ainda iludida que a solução é um Salvador, seja de que lado for. Pobre daquele que não se desenvolveu, pobre daquele que não tem autoestima; pobre daquele que sua personalidade é ainda o “mimetismo” de líderes messiânicos!

Temos em nossas mãos, mais uma vez, a possibilidade concreta para que políticos se comprometam com a “coisa pública”, republicana! É hora de tolerância, reflexão, parcerias, respeito para manter nossa democracia ainda imberbe.

Deixo o leitor com mais um fragmento poético de Affonso Romano em seu poema “A Grande Fala do Índio Guarani”:

“Sujeitos? / — que sujeitos somos senão abjetos-objetos/ que têm o vento como complemento?/ Estúpido estudante soletro à tarde/ o que de manhã me ensinam/ À noite sonho o que não sei/ de manhã de novo/ abro outra cartilha/ — e o mar sem ilha./ Abro os filósofos. E sobre o lugar-comum/ o espanto: – Tudo (já foi) dito —- e nada se aprendeu”.         

É tempo de se tolerar a turbulência com atitudes construtivas e criativas! 

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