Mulher, um poema

       

Mulher, Salve Regina, mãe de Cristo, ser ousado, corajoso, que atendeu à serpente no Paraíso e nos deu humanidade. Caso este ato de irreverência, ousadia e transgressão não tivesse acontecido, o que seria de nós? Anjos, anjos puros, seres indiferenciados, no limbo, sem amor e sexualidade. Daí a expressão bíblica e literária: somos “Anjos Caídos”.

Mulher, fêmea, animal, gente, aquela que nos concebeu com tolerância à espera, capacidade de recusa, gritos, sussurros e sorrisos de amor, de alegria ao vê seu bebê vivo, chorando, gritando e denunciando vida. Mulher que sofre quando seu filho cresce, mulher que se contenta quando sua cria se desenvolve, transforma-se em adulto.

Mulher que geme a cólica do infante, que estranha sua sexualidade quando grávida e oferece a seu recém-nascido todo seu amor, dedicação, tempo e sua vida.

Mulher que aborta, de propósito ou contra seu anseio. Fêmea que mata, que odeia e ao mesmo tempo ama. Ser humano que se dedica, que se escraviza e que sente prazer numa relação sado-masoquista; mulher de bandido.

Mulher que inveja, mulher que se complementa com seu homem, cria uma parceria, mulher que cresce, mas sob o domínio da “serpente verde”, a inveja, faz e acontece, luta, briga, mata, escraviza os homens para negar sua feminilidade.

Sempre pensei que a mulher nasce aberta, com sua fissura vaginal e o homem é fechado. Que vantagem da abertura! Inacabada, incompleta, aberta para expansão e liberdade. Às vezes, as mulheres não se dão conta dessa vantagem!

Mulheres de Atenas, lutadoras, mulheres do campo, mulheres da roça, mulheres que conseguiram se desprender do cativeiro. Sherazade, exemplo de astúcia, a primeira emancipação ao poder masculino.

Negras, vindas da África. Mulheres intelectuais, executivas, ministras e até presidente da república.

Mulheres santas, filósofas, teólogas; mulher que teve a capacidade de se livrar da sua carnalidade e se tornar santa. Mulher, carmelita descalça, que oferece sua vida para ser “esposa de Cristo”.

Mulher que transa, que não transa, mulher que ama e odeia o homem que a ama e odeia. “Há uma mulher. Sente por mim o que eu sinto por ela, me odeia, me ama. Quando ela me odeia eu a amo, quando ela me ama, eu a odeio. Não existe outra possibilidade.”

Mulher sensual, sensitiva, histérica, madura. Mulher da rua, prostituta que carrega sua angústia do vazio e de não ter tido afeto e oportunidades.

Mulheres que amam mulheres, onde a homossexualidade é uma escolha e um modo de ser-no-mundo. Mulheres inférteis, desesperadas e angustiadas com a impossibilidade de não criarem. Filhos adotados por mulheres que às vezes são mais verdadeiras que as mães que os pariram. Mulher que cria, que faz da arte a maneira de tornar o mundo mais vivível.

Mulher, não a costela de Adão, mas tão importante quanto ele na humanização do mundo.

 

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