Psicanálise da vida cotidiana – Sociedade artificial – 30/05/18

      

        “Entre esses dois polos de inocência e consciência, de solidão e comunhão, move-se toda a poesia. Homens modernos, incapazes de inocência, nascidos em uma sociedade que nos faz naturalmente artificiais e que nos despoja da nossa substância humana para nos converter em mercadorias, buscamos o homem perdido, o homem inocente”.

Reflexão trazida pelo poeta Octavio Paz em seu livro A Busca do Presente, editora Bazar do Tempo. Questão digna de pensarmos profundamente sobre a pós-modernidade e como estão estabelecidas as relações humanas. Que serão dos nossos filhos e jovens contaminados por essa ideologia da Mercadoria e a perda da “inocência”?

Na leitura de Afinidades Eletivas de Goethe, podemos pensar na dinâmica das relações afetivas, de afinidades, de cumplicidade amorosa e respeitosa. O romantismo não exclui a racionalidade, forma um par onde podemos resgatar a humanidade, o respeito aos sentimentos e paixões. Habitamos numa época onde os humanos se transformaram em coisas, em animais somente, e não em animais-humanos.

Uma das mais belas funções da Psicanálise, isso lido em Freud, é a civilização das pulsões, condição necessária para o crescimento humano, o resgate do homem que ofuscou em seu “autismo narcísico” como costumo falar, a parceria afetiva.  A tecnologia e a racionalidade, usadas para fins do mercantilismo é o veneno da alma, a bomba que a qualquer momento explode a pequena partícula de Afeto que ainda nos resta. A poesia, segundo Octavio é poesia de solidão e poesia de comunhão, assim como devam ser as nossas relações afetivas – sozinho-com, alone-together.

O mundo atual está perdendo a dimensão de parceria entre os homens, dimensão essa que torna cada dia mais os indíviduos vazios, depressivos, e embebidos numa ideologia da inveja, gula e voracidade. Volta o tempo do colonizador e o colono, uma dinâmica sado-masoquista, exploratória e escravagista, empurrando as pessoas para um destino incerto, perigoso e destruidor dos direitos humanos.

Octavio Paz em seu livro lembra: “O que pretende o poeta quando expressa em poemas sua experiência? …através da palavra, através da expressão de sua experiência, busca tornar sagrado o mundo; sacramenta com a palavra a experiência dos homens e as relações entre o homem e o mundo, entre o homem e a mulher, entre o homem e a própria consciência”.

 

Carlos de Almeida Vieira – Médico psiquiatra, Psicanalista da SPBsb e da SBPSP (São Paulo), Membro da Federação Brasileira de Psicanálise –  FEBRAPSI e da International Psychoanalytical Association – IPA


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