Psicanálise da vida cotidiana – A arte da leitura – 25/07/18

            

         

         

                     No tempo pós-moderno não existe nas escolas e universidades o hábito, a disciplina de ser ler como se deve ler. A pressa, os meios de comunicação atuais, os livros eletrônicos e a cultura do capitalismo selvagem, transformam nossos jovens e adultos em consumidores de livros e não de leitores.

Ler é mais do que ler no sentido comum; ler é repousar, pensar emocionalmente, experimentar um diálogo com o escritor, como autor, para dessa maneira introjetar o conteúdo e a forma do texto.

Um livro tem ritmo, tem música, tem uma comunicação pessoal (autobiográfica) do autor assim como fala de momentos históricos da civilização revelando o aspecto social no tempo da obra. Um livro tem prosa e poesia, tem uma experiência captada por quem o escreve sobre quem lê. Um dos fatores fundamentais de uma obra é quando o leitor se lê nela. J.L.Borges dizia que, quando um leitor não enxergava em seus escritos, em seus poemas, ele não se sentia escritor.

Nesse momento, a Editora Record (2018) reeditou um belo e importante livro Nenhuma Paixão Desperdiçadade um dos mais proeminentes ensaístas e críticos literários dos nossos tempos, George Steiner. O livro começa a meu ver, com um dos mais importantes ensaios O Leitor Incomum. Texto digno de ser difundido aos professores e alunos das escolas e universidades desse nosso país, carente de educação e cultura. Steiner usa como exemplo e metáfora uma pintura terminada em dezembro de 1934, de Jean-Baptiste-Simíon Chardin, Le Philosophe Lisant (O filósofo lendo). Escreve Steiner: “…se o analisarmos com relação à época e nossos códigos afetivos, a maneira como o pintor se expressou revela, em quase todos os pormenores e na sua concepção mesma, uma revolução de valores”.

O rico e precioso ensaio ensina como se deve ler uma obra, as condições mínimas necessárias para o afetivo ato da leitura, para unir a experiência racional com a emocional transmita pelo texto. Enfatiza que na arte da leitura, o silêncio é imprescindível.

Alerta-nos Steiner que na tela de Chardin: “em especial, o silêncio é palpável, está no espesso tecido que recobre a mesa, nas pesadas cortinas, na solidez lapidar da parede ao fundo… Uma leitura genuína requer silêncio (Agostinho, em uma passagem famosa, registra o fato de seu patrão, Amboise, ser o primeiro homem que ele via ler sem mover os lábios). A leitura, como Chardin a representa, é um ato silecioso e solitário”.

Não há espaço, caro leitor, para me alongar sobre o ensaio de Steiner, fica a indicação desse belo texto e do necessário livro a todos aqueles que se dedicam à arte de ler e ensinar.

 

 

Carlos de Almeida Vieira – Médico psiquiatra, Psicanalista da SPBsb e da SBPSP (São Paulo), Membro da Federação Brasileira de Psicanálise –  FEBRAPSI e da International Psychoanalytical Association – IPA


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