Histórias de Captura: Ser filha e não ser Ninguém

Vídeo publicado aqui

SPBsb promove reunião científica sobre vínculos maternos e identidade na infância.

No encontro online, a psicanalista Ana Cláudia Meira apresentou reflexões sobre relações invasivas entre mães e filhas e seus impactos na constituição subjetiva.

Na noite da última quarta-feira (27), a Diretoria Científica da Sociedade de Psicanálise de Brasília (SPBsb) realizou a reunião científica “Histórias de Captura: Ser Filha e Não Ser Ninguém”, conduzida pela psicanalista Ana Cláudia Santos Meira, membro do CEPdePA e do Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPdePA). O encontro, online e aberto ao público, reuniu psicanalistas, estudantes e interessados para discutir os efeitos de vínculos maternos invasivos na formação da identidade.

Durante a abertura, a diretora científica da SPBsb, Nize Nascimento, destacou a importância do trabalho de Ana Cláudia e apresentou suas principais obras, entre elas “Histórias de Captura: Investimentos Mortíferos nas Relações Mãe e Filha” e “A Escrita Criativa no Divã”.

Ana Cláudia nos convidou a refletir sobre vínculos invasivos e mortíferos nas relações mãe e filha, e a pensar juntos sobre as marcas e as possibilidades de transformação que podem atravessar a clínica.

Histórias de captura

Em sua fala, Ana Cláudia Meira explicou o conceito de “histórias de captura”, termo que utiliza para descrever dinâmicas psíquicas em que a relação entre mãe e filha é marcada pela ausência de espaço para a individualidade da criança.

Segundo a psicanalista, nessas situações, a mãe assume uma posição de completude e investe na filha como extensão de si mesma, sem permitir que a criança desenvolva desejos, escolhas e identidade próprias.

“A filha tem o direito de ser filha dessa mãe, mas não tem a chance de ser alguém”, afirmou Ana Cláudia. “A relação é desigual e assimétrica: a mãe não admite a presença de terceiros, não permite triangulação e mantém a filha presa ao seu próprio narcisismo”.

A psicanalista ressaltou que essas experiências impactam profundamente a constituição psíquica e podem gerar quadros clínicos regressivos, nos quais o sujeito, mesmo na vida adulta, tem dificuldade de se perceber separado da mãe e de investir em outros vínculos e projetos de vida.

Debate clínico e contribuições

A reunião foi dinâmica com a participação do público levantando questões que trouxeram reflexões valiosas sobre transmissão psíquica entre gerações e os desafios clínicos no manejo de pacientes com histórias de captura.

Durante o debate, foram levantadas questões sobre a negação da presença de um terceiro nessas relações simbióticas. Foi observado ainda como algumas mães transformam a filha em extensão de si mesmas, criando um vínculo que pode impedir a diferenciação subjetiva e dificultar o desenvolvimento de uma identidade autônoma. Foi levantada a questão se essas dinâmicas tendem a se reproduzir entre gerações e se fenômenos semelhantes poderiam ocorrer na relação entre mães e filhos homens.

O debate também abordou o papel da figura paterna ou de um terceiro elemento como mediador da relação mãe-filha; os impactos específicos sobre filhas em comparação com filhos e as possibilidades de transformação psíquica no contexto da análise.

“Muitas dessas mulheres crescem, estudam, trabalham e se tornam independentes financeiramente, mas emocionalmente permanecem referenciadas à mãe. Suas escolhas, gostos e desejos continuam sendo validados por ela (mãe)”, explicou Ana Cláudia.

O evento reforçou o compromisso da SPBsb com a produção e a difusão de conhecimento psicanalítico, promovendo espaços de reflexão sobre temas complexos e fundamentais para a clínica contemporânea.

Produtos & Serviços

Boletim Informativo

Notícias da SPBsb

Calendário​

Atividades da SPBsb

Jornal Associação Livre

Ensaios de psicanálise

Alter

Revista de Estudos Psicanalíticos

Textos psicanalíticos

Temas da contemporaineidade