
Memória corporal e transferência em foco em reunião científica da SPBsb
Promovido pela Diretoria Científica, evento abordou psicopatologias contemporâneas, transferência e memória corporal
A Diretoria Científica da Sociedade de Psicanálise de Brasília (SPBsb) recebeu, em encontro on-line, a psicanalista Ivanise Fontes, doutora pela Universidade Paris 7 – Denis Diderot, para a conferência Memória corporal e transferência. A mediação foi da diretora científica Nize Nascimento, que destacou a “escuta implicada” da convidada e sua contribuição para “dar gesto e voz ao que ainda não encontrou representação”.
“Ivanise vai abrindo caminhos para que o não representado encontre presença, gesto e voz na clínica. Sua prática clínica se caracteriza por uma escuta implicada que reconhece a dimensão do sensível no paciente e abre esses caminhos para que o não representado encontre presença, acolhimento e continência, favorecendo novas formas de elaboração e de construção subjetiva a partir dos registros sensoriais precoces que possam aflorar”, destacou Nize Nascimento.
Durante a exposição, Ivanise Fontes percorreu três eixos:
- Psicopatologias contemporâneas – Inspirada em Júlia Kristeva, apresentou as “novas doenças da alma”: quadros borderline, somatizações, adições e certas depressões. Essas condições, segundo a autora, revelam egos em processo de constituição e exigem da psicanálise um olhar para o corpo e para as sensações arcaicas.
- Transferência – Revisitou a noção freudiana, lembrando que o próprio Freud, em 1938, ainda se dizia “surpreso” com o fenômeno. Ivanise destacou as contribuições do francês Pierre Fédida, que introduziu conceitos como “inquietante estranheza” e “regressão alucinatória da transferência”, ampliando o entendimento da presença do corpo e da sensorialidade no setting analítico.
- Memória corporal – A partir de Ferenczi, defendeu que “a lembrança fica impressa no corpo e somente nele pode ser despertada”. Casos clínicos de sua prática ilustraram como sensações e registros pré-verbais retornam na análise, possibilitando a construção de um “ego corporal” e inaugurando, nas palavras de Balint, um new beginning para o paciente.
Sobre esse processo, Ivanise Fontes enfatiza que “as memórias mais arcaicas são aquelas que ficam registradas no corpo e podem retornar pelo fenômeno da transferência”.
Ferenczi via que as sensações dolorosas, quando desmentidas, tornam-se feridas vivas no corpo. A criança, ao falar, não é acreditada; seu dizer é apagado pelo adulto que insiste: “isso não aconteceu”. E assim, no silêncio forçado, ela guarda em si o indizível. Mas o corpo não esquece. Ele guarda as marcas como inscrições profundas, que mais cedo ou mais tarde retornam, exigindo presença, escuta e elaboração.
Encerrando, destacou a importância de acolher as memórias sensoriais precoces, abrindo espaço para que delas possam surgir novas formas de elaboração psíquica
O encontro reafirma o compromisso da SPBsb em promover debates que integram tradição e avanços teóricos, abrindo espaço para uma psicanálise que reconhece a dimensão do sensível no processo de subjetivação.