A busca da Palavra

          Numa experiência analítica se faz necessário, para apreender a realidade psíquica de um analisando que o psicanalista seja uma pessoa, assim como os poetas, seja capaz de ouvir as palavras, o que está escondido na palavra concreta e metáforas que a conversa sugere. Analisar é buscar incessantemente a Palavra, tanto na comunicação verbal como na não-verbal.

É engano pensar que o silêncio não fala; o silêncio é silêncio verbal e não ausência de comunicação. Tal como a música, a pausa não é sinônimo de ausência de música, mas um momento no qual o silêncio emite sentimentos e estados de mente.

O psicanalista tem de observar, perscrutar, inferir, intuir e ouvir a fala de seu parceiro de trabalho (o analisando) e ir esperando que a Palavra caia sobre sua mente para nomear o não dito. Para isso exige-se muita disciplina e capacidade de apreensão estético-artística no sentido de colocar a palavra como significado emocional, vivido, das angústias e confusões do seu analisando.

Nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, num de seus poemas “A Palavra”, nos versa: “Já não quero dicionários/ consultados em vão./Quero só a palavra/ que nunca estará neles/ nem se pode inventar./  Que resumiria o mundo/ e o substituiria./ Mais sol  que o sol,/ dentro da qual vivêssemos/  todos em comunhão,/ mudos, saboreando”. Graciliano Ramos, o esteta da palavra, em São Bernardo escreve: “Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa (o que fazem as lavadeiras lá de Alagoas). A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”.

Pois bem, caro leitor, o exercício artesanal do trabalho de um psicanalista é sempre em busca da palavra, da capacidade de nomear as angústias indizíveis e os estados primitivos da mente. Para isso, exige-se uma capacidade de observação apurada, paciente, tolerante e capaz de intuir, se colocar no lugar do outro, ouvir e falar aquilo que nosso Inconsciente guardou como defesa para não revelar a verdade da realidade psíquica. É claro que, revelar a verdade sempre dói, mas equipa a mente de quem ouve de recursos fantásticos para fazer face às experiências que nos adoecem, que são verdadeiros pesadelos dormindo e acordando, onde as pessoas ficam à espera de quem dê nome ao “estranho”.

Captar a palavra é seguir o exercício da nossa Clarice Lispector em seu belo livro “Água viva”: “devemos nos disciplinar para escutar antes das palavras”, e complemento, não esquecendo de ouvir a melodia, a música que se esconde no pré-verbal.

 

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