O sentido de existir antes que a Cultura morra!

         O ser humano é alguém lançado ao mundo com a certeza da sua mortalidade, o que confere a condição de vulnerabilidade, finitude e capacidade em desenvolver arranjos criativos antes que a morte aconteça. A maior angústia humana é a dor do desamparo, a possibilidade de sucumbir sem que use seus próprios recursos. 

Desde a antiguidade a saída para suportar a angústia era colocada no Divino, nos Mitos, na Religião ou em Deus, como suportes para sobreviver. Sabemos com o desenvolvimento das ideias que a partir da Modernidade, a tônica veio recair sobre o próprio ser humano. Deus está morto, gritou Nietzsche, não no sentido de matar Deus, mas no sentido de que foi preciso “Deus está morto” para que os homens se responsabilizassem pelo seu destino e suas decisões. Martin Heidegger no pós-guerra entendeu e começou a pesquisar que toda a questão filosófica está ancorada no que ele chamou do aí (Dasein), dito de outro modo, toda a questão filosófica seria, a partir daí o sentido da palavra Ser (Sein).

O drama humano, arriscou Jean-Paul-Sartre mais tarde: “O segredo de um homem não é o seu complexo de Édipo, e sim o próprio limite de sua liberdade, seu poder de resistência aos suplícios e à morte”, citação feita por Elisabeth Roudinesco, na introdução do seu livro, “Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo”.

Pois bem, caro leitor, uma questão que coloco hoje diz respeito à capacidade de o ser humano desenvolver soluções criativas, formações simbólicas e arranjos sublimatórios no sentido de ter uma vida menos sofrida, angustiante. E quais seriam essas soluções? Educação, Filosofia, Arte, Literatura, Trabalho, Esporte e Ciência. Essas alternativas implicam nos recursos constitucionais de cada pessoa e naquilo que o Estado oferece. Cabe a toda pessoa viver, desenvolver, aprender da experiência para usar o pensamento e seus afetos no sentido de aprimorar sua existência cotidiana.

É senso comum que hoje, a Filosofia e a Ciência, assim como a Literatura e todas as Artes só têm sentido se forem práticas, e não como conhecimento ou acúmulo de ideias dentro do muro das Universidades. É evidente, e no Brasil atual o Governo minimiza as ciências humanas e enaltece o ensino de disciplinas que favorecem o Capitalismo perverso. Wolfram Eilenberger em seu livro, recentemente traduzido no Brasil “Tempos de Mágicos – a grande década da filosofia 1919-1920”, referindo-se às ideias de Heidegger, escreve: “…a vida em sua força primordial é mais profunda e plena do que o conhecimento, e toda nossa filosofia sofre pelo fato de seus problemas ainda serem ditados por conhecimentos – de modo que desde o início estão desfigurados e presos a paradoxos”.

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