“Efetivamente, na era da disseminação nuclear e da degradação da biosfera, tornamo-nos, por conta própria, um problema de vida e/ou morte”
Edgar Morin
A unidade e coesão familiar se desintegraram, a ética e a moral tornaram-se gritos do fundamentalismo e do individualismo destrutivo, a crença em Deus anda agonizante, e a condição humana se desmorona em pedaços de uma angústia sem nome. Viver hoje é sobreviver ante uma sociedade consumista, egocêntrica, burocrática e orientada para o sucesso financeiro e a obtenção do prazer pelo prazer. O progresso tecnológico equipa o homem para uma trágica guerra nuclear, a educação tem por finalidade não o crescimento humanístico, e sim a esperteza e a astúcia para uma pessoa seja “feliz materialmente”. E a ciência? Que dizer de uma ciência atual que perdeu a primazia da certeza, que brigou o tempo todo para separar o sujeito do objeto, e por conseqüência está às voltas com a crise da objetividade.
Pascal, o antigo e atual pensador, inspira Edgar Morin para escrever seu livro A humanidade da humanidade – a identidade humana (Editora Sulina, 2007, Porto Alegre-RS) com a seguinte frase: “Que quimera é, então o homem? Que novidade, que monstro, que caos, que objeto de contradição, que prodígio! Juiz de todas as coisas, verme imbecil; depositário do verdadeiro, cloaca da incerteza e do erro; glória e desejo do universo”. Quem resolverá essa confusão?
O homem de hoje, ainda que antigo, é um homem por excelência agressivo, destrutivo, individualista, vampiro do próprio semelhante, para ter mais, consumir mais, acumular mais e inutilmente achar que essa é a fórmula de encontrar o “paraíso”. Doce ilusão, o homem atual está despedaçado numa depressão e vazio sem fim. Não é preciso ir longe para sentir essas evidências: a corrupção, as gangues de colarinho branco, os grupos de políticos perversos, os destruidores da biosfera, as facções de alguns senhores do Judiciário que julgam em benefício próprio para acumulação de riqueza pessoal, sem falar dos governantes que usam o dinheiro público sem compromisso social. Não somente poluímos nossa Natureza, estamos poluídos mentalmente. Estamos cercados de exemplos que não servem mais para a construção da identidade dos nossos filhos e jovens.
Precisamos viver cuidando das nossas idealizações excessivas. São essas idealizações que criam os falsos profetas, os lideres ditatoriais, o presidencialismo salvador, as religiões sectárias, fundamentalistas, e a volta das promessas dos ditadores, fantasiados de “salvadores da pátria”.
Deixo o leitor com a proposta criativa e genial de Edgar Morin (1921), sociólogo e filósofo francês, nascido em Paris e Diretor emérito de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica, em França: “ Precisamos de um pensamento que tente juntar e organizar os componentes (biológicos, culturais, sociais, individuais) da complexidade humana… Não se trata de somá-los, mas de ligá-los, articulá-los e interpretá-los. Não se quer limitar o conhecimento do humano somente às ciências. A literatura, a poesia e as artes não são apenas meios de expressão estética, são produtores da Cultura, e isso nos falta e falta também aos nossos filhos.
Esse nosso país, em meio ao “segundo milagre brasileiro” precisa sim, de mais progresso científico e técnico, no entanto, sem esquecer que nada disso nos desenvolve como ser humano, se não tivermos como base um crescimento ético, humanístico e político-social dos nossos filhos e jovens.