“A pessoa não apenas realiza muito mais rapidamente e com menor gasto afetivo a intenção de tomar conhecimento do que traz oculto em si mesma, como adquire na própria carne, por assim dizer, impressões e convicções que procura em vão nos livros e nas conferências.”
S. Freud, in Recomendações ao médico(?) que pratica a psicanálise.
O nosso Brasil ultimamente, através dos Órgãos Governamentais e empresários da iniciativa privada, particularmente os de Universidades particulares, como é o caso recente no Estado do Paraná, associados com o poder político e influenciador de algumas facções Religiosas Evangélicas, aprovaram “Cursos Universitários”, ou Faculdades de Psicanálise com a pretensão de formar “psicanalistas” com programas suspeitos e contrários às formações de peso Nacional e Internacional. Por sinal, na ocasião não foram consultados pelo Ministério da Educação, por razões políticas, mercantilistas e religiosas os psicanalistas de referência do país.
Enfim, caro leitor, estamos vivendo uma “febre de formações de psicanalistas, contrária às condições básicas, há mais de um século de experiência internacional e nacionais que definem as condições essenciais para poder ser psicanalistas: Análise pessoal de alta frequência (4 a cinco anos de análise pessoal; em torno de duzentas horas de Supervisão de casos clínicos e um curso teórico abrangendo várias escolas, de no mínimo quatro anos. Na linguagem atual, criaram uma “Psicanálise Sanduíche”.
A Psicanálise desde Freud nunca se afastou da sua função terapêutica (não no sentido positivista do modelo médico e psicológico comportamental). A Psicanálise que se ensina nos cursos de pós-graduação em Universidades de monta, senso estrito e lato, abrange um estudo profundo das Teorias Psicanalíticas e não a FORMAÇÃO DE CLÍNICOS para exercerem sua prática em seus consultórios e instituições. No tocante à prática, é fundamental ensinar as teorias da Técnica, a Técnica e habilitar seus analistas em formação a desenvolverem seus Estilos próprios, pois a experiência analítica tem uma finalidade de exigir do psicanalista condições de uma cultura pessoal nas áreas de filosofia, sociologia, ética, artes, literatura e teologia (não religiosa), além de se esperar do analista em formação, uma capacidade de apreensão estético-artística da realidade externa e interna (realidade psíquica). Como adquirir tudo isso num curso de graduação com titulação de bacharel? Confesso a ironia de que é uma “piada” e um perigo, pois lidamos com a saúde psíquica da população! Curso de formação de psicanalistas têm o mesmo peso e o compromisso social de ser uma experiência de pós-graduação e não de graduação.
Lidamos com os sentimentos humanos, com compaixão e ternura, com fantasias conscientes e inconscientes por parte dos analistas e não por regras técnicas, orientações psicopedagógicas, conselhos e orientações morais e religiosas, como se tudo que se instala no Inconsciente individual fosse consequências de “atos diabólicos” que devessem ser exorcizados.
É óbvio que todo esse interesse ideológico e mercantilista que a cada dia prolifera nas “políticas públicas” não merecem ser pensados como forma de controle social, religioso, político e autoritário de governos que não têm interesse em saúde pública e ideologia humanista.
No entanto, o que nos deixa um pouco aliviado é que, como a Clínica é Soberana, cabe aos pacientes ou analisandos dos atuais e futuros Bacharéis em Psicanálise, ser capazes e críticos em separar o joio do trigo e a população não sofra tanto com os chamados efeitos colaterais, tão decantados com o nome de consequências patológicas provenientes das patologias dos próprios psicanalistas mal formados (iatrogenia).
“Que tipo de analista é você? Um artesão em cerâmica? É um pintor? Um músico? Um escritor? Em minha experiência, a grande maioria dos psicanalistas não sabem na realidade que tipo de artista são”.
Wilfred W. Bion.
Não sejamos técnicos, teóricos, legistas, controladores das mentes humanas em sofrimento! Espera-se que tenhamos uma formação sólida, humanista, ética e que não se use a Psicanálise como forma de exercer poder político, ideológico, religioso e favorecedor de mais lucros materiais de um capitalismo selvagem!