Algumas ideias sobre J. L. Borges (1899-1986)

Para alguns críticos, Borges imortalizou-se pelos seus Contos, Poesias e Ensaios Biográficos, pelas suas invenções imaginárias, como também por seus ensaios sobre o passado, presente e futuro. Um dos escritores reconhecidos como “escritor chave” do século XX.

Tomava um café italianíssimo, um macchiato, e logo após um belo sorvete diet de chocolate, imposto pelas minhas variações glicêmicas, lendo uma entrevista dada à Paris Review,volume I de 2006, Ronald Christ, denominada de “A arte da ficção, 1966” ao argentino Borges, achei inspiração.

Na realidade estava procurando inspiração para um artigo. Logo senti o desejo de compartilhar com o leitor um pouco desse escritor que, por questões políticas extremistas não foi agraciado com um Nobel de Literatura, como tantos outros. A Academia é terrível partidária, injusta, moralmente reprovável com tantos outros escritores, coisas de conchavos políticos-ideológicos-partidários.

Borges não merecia! Como Drummond, Graciliano e tantos outros.

No decorrer da minha leitura foi tomado pela preciosidade de Borges, sua cultura, suas leituras, fragmentos de seus ensaios literários e críticos dos autores ingleses e americanos. Era uma época na qual sua cegueira ficava acentuada, e sua mãe lia para ele. Borges fora diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, espaço mágico onde desde jovem se aculturava lendo livros, levando volumes e mais volumes para casa, onde lia e meditava sobre os textos. “As vezes, quando desejava meditar, Borges deixava o gabinete e ia com seu passo vagaroso dar uma volta na rotunda da biblioteca, bem acima dos leitores e suas mesas, no andar de baixo” Recordo-me de lido em um dos seus ensaios que a escrita surgia da leitura. Ler, ler, ler e depois escrever, comentava ele.

Na entrevista pincei alguns fragmentos da fala de Borges, que gostaria de dar ênfase nesse escrito.

“Borges demonstra ora uma imensa curiosidade, ora uma incredibilidade intimidada, quase patética”, escreve Ronald. “Acima de tudo, porém Borges é um tímido. Reservado a ponto de se apagar, ele evita sempre que possível qualquer afirmação pessoal, e responde obliquamente as perguntas sobre si, citando outros escritores, usando suas palavras e até mesmo seus livros como emblemas do seu próprio pensamento”.

Adiante se constata sua cultura imensa, desde os épicos e poetas ingleses, como Samuel Johnson, Shakespeare, Keats, Lawrence, Kipling e parte da literatura saxônica. Não deixava de citar Kant, Schopenhauer e outros filósofos. Que bem faria à nossa subcultura Brasileira, principalmente nos dias de hoje, onde a mentalidade do capitalismo selvagem e a tecnocracia, deixam de lado, até como programas do Ministério da Educação, o ensino humanístico desde as escolas primárias! “Quando era um rapaz, andava sempre à caça de metáforas, novas metáforas. Você compara o tempo a uma estrada, a morte ao sono, a vida ao sonho, e são estas as grandes metáforas da literatura…” Nos dias atuais, a leitura é uma praga onde se resume, onde se falsifica o texto original de um autor como Machado de Assis, para beneficiar os jovens aos exames dos “Enens” da vida! Os clássicos são museus antigos sem importância para a juventude atual, quando os clássicos são clássicos na medida que são atuais e não sapatos velhos que não servem mais para caminhar.

Borges desliza em sua entrevista a necessidade da leitura dos clássicos, até se inspira neles. Com exemplo, ouçamos esta afirmação borgiana sobre o escritor T.S.Eliot: “Eliot era um homem bem mais inteligente; no entanto, a inteligência pouco tem a ver com a poesia. A poesia surge de algo mais profundo, está além da inteligência. É uma coisa à parte; tem a natureza à parte. Indefinível…” Não posso deixar de afirmar que a educação atual dada aos nossos jovens é totalmente carente de exercitar a apreensão estética-artística, literária, poética e inconsciente das escritas de um Machado, um Drummond, um Bandeira, de Clarice Lispector. “Acho que Conrad tem razão; realmente ninguém sabe se o mundo é realístico ou fantástico, quer dizer, se o mundo é um processo natural ou se é algum tipo de sonho, um sonho que podemos compartilhar ou não com os outros”, afirma Borges na entrevista.

“O leitor deve ser capaz de ler com fluência, mesmo se você está escrevendo metafísica, ou filosofia, ou seja o que for”.
Antonio Candido, nosso escritor e crítico maior, afirmou se referindo à leitura de Clarice Lispector: “Clarice não escreve para a Literatura, ela escreve para se viver”.

Convido aos leitores a abandonarem os “livros de auto-ajuda”, e começarem a se ler nas obras dos Clássicos, J.L.Borges é um deles.

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