SUMÁRIO & RESUMOS
ARTIGOS
A casca e a polpa: rumo ao mundo interno – Eva Maria Migliavacca
Neste trabalho, apresento material clínico da análise de uma paciente em processo de percepção da existência de um mundo interno em diálogo com o mundo externo. Paulatinamente, a analisanda percebe a ausência de contato com sua vida mental e o uso de defesas que a distanciam de si mesma. Nesse processo, tanto a relação com ela mesma quanto com a analista passam a ser objeto de interesse e investigação.
Franz Kafka e a Psicanálise: um vértice literário – André Luiz Vianna e Carlos de Almeida Vieira
Em rascunho de carta (não datado), parte de um conjunto de textos reunidos sob o título de Meditações, Franz Kafka, contemporâneo de Freud, registra o fato de que já tomou conhecimento da Psicanálise. Mais que isso, que deseja manter-se “tão afastado dela quanto possível”, mas que não pode mais ignorá-la. A partir daí, é possível correlacionar estas afirmações com outros escritos de Kafka presentes na Carta ao pai e nos Diários, e confirmar os laços, e confirmar os laços estreitos entre a Psicanálise e a Literatura. Alguns destes escritos podem ser lidos como verdadeira vinhetas clínicas ou sonhos e, por associação livre, aceitos como contribuições ao pensamento analítico.
O percurso da função terapêutica e da transferência na Psicanálise freudiana – Luís Augusto Monnerat Celes e Mônica Marques Zilli
Neste artigo, busca-se delinear o posicionamento do conceito de transferência na teoria freudiana, desde primeira reflexão na obra desse autor, a partir de um percurso cronológico com base na função terapêutica da Psicanálise enquanto era desenvolvida e definida como método de trabalho. Sob essa perspectiva, são concebidos, de uma forma didática, três momentos fundamentais que, oriundos de crises teóricas prévias, podem ser tomados como uma síntese do pensamento freudiano correspondentes a cada época; desse modo, tem-se primeiramente uma “clínica do trauma e da recordação”, que, sustentada pelo método da associação livre, será abalada pela descoberta do inconsciente, dando início à preocupação clínica com a representação e a significação, marcada pelo intuito de apresentar a amplitude inigualável do inconsciente. É nesse momento que os conceitos de sexualidade e transferência emergem, instaurando uma nova crise teório-terapêutica. Inicialmente entendida como resistência (a falar livremente), a transferência toma finalmente seu lugar como fundamental para a análise, estando sob seu jogo o próprio caráter terapêutico da relação analítica. Em seguida, a análise da transferência como preocupação terapêutica encontra seu limite nas considerações quanto às pulsões. A compulsão à repetição aponta para a impossibilidade de significação ou simbolização. A pulsão, particularmente a pulsão de morte, pode ser entendida como o conceito limite da Psicanálise: o limite de sua função terapêutica.
Sobre a pertinência de novas teorias para a clínica contemporânea – Regina Lúcia Braga Mota
A autora apresenta um ensaio crítico sobre recentes abordagens teórico-clínicas do sofrimento psíquico, ressaltando as patologias sem representação e a teoria vincular. Discorda que os novos desenvolvimentos teóricos representem novo paradigma na Psicanálise, cujo estatuto pertenceria ao conceito de inconsciente. Considera as novas teorias apenas desdobramentos de idéias já esboçadas por Freud. Discute propostas de autores contemporâneos para lidar com o irrepresentável, como a “terceira tópica” e a “regressão formal”, incluindo a noção de figurabilidade.
De algumas coisas que tenho depreendido de minha prática psicanalítica e de uma passagem de sua pré-história – Avelino Ferreira Machado Neto
É proposta a ocorrência de uma preconcepção do conteúdo de pensamentos-sonhos na relação analista-analisando sugerindo uma repercussão no sentido dado às interpretações. A interpretação no campo da Psicanálise é vista como um trabalho realizado a dois, ao qual a prática psicanalítica acrescenta um sentido de mais adequação e atualidade aproximando-se da criação de uma versão. Descrições de experiências pessoais ilustram a importância do outro para verem juntos aquilo que foi experienciado sozinho.
Questões relativas à “cura”, à “melhora”, à normalidade e à anormalidade: Psicanálise e psicoterapias – Claudio Castelo Filho
Valendo-se de contextos clínicos, o autor expõe situações que costumeiramente poderiam ser vistas como problemas a serem sanados ou extirpados de um vértice médico-curativo ou psicoterápico. Dor, tristeza, pânico, depressão, etc são percebidos como males que precisariam ser curados. A partir do vértice psicanalítico que considera a existência de uma mente e que foca o desconhecido, essas manifestações podem ser consideradas – levando em conta o contexto – como legítimas e pertinentes da personalidade, e que uma abordagem que visasse à sua eliminação poderia ser vista como mutiladora. Expectativas de cura e melhora podem enviesar o atendimento psicanalítico. Os pacientes podem tornar-se experts em produzir as “curas” esperadas por seus analistas que não percebem a manutenção do status quo mentaldo paciente o qual não desenvolve sua autonomia de pensamento e autoridade pessoal. Psicanálise deveria visar ao desconhecido da realidade psíquica, assim a evolução do paciente não implicaria sua adaptação a um establishment preestabelecido – mesmo que “psicanalítico”. Psicanálise não serviria para produzir “bons cidadãos”, mas para permitir que uma pessoa seja ele própria, tornado-se capaz de agir conforme sua autonomia. Psicanálise precisaria ser didática, mas não pedagógica. A Psicanálise que procura ser “respeitável e de acordo com um establishment não seria mais Psicanálise, mas algum tipo de doutrina.
Psicanálise, psicodinâmica do trabalho e organizações: interfaces passíveis – Kátia Barbosa Macêdo
Comemorando 150 anos do nascimento de Freud, discute-se a aplicabilidade da Psicanálise em contextos mais amplos. O texto aborda interfaces entre Psicanálise, psicodinâmica do trabalho e organizações, enfocando a administração simbólica nas organizações. Além disso, discute as relações sociais vigentes que constituem contexto propício para proliferação de técnicas de gestão, utiliza a psicodinâmica do trabalho como base teórica, enfatizando as abordagens de Max Pagès e Dejours. Pagès adota visão crítica da administração simbólica ressaltando seu caráter ideologicamente com comprometido, visando produzir trabalhadores disciplinados, obedientes e alienados Dejours discute categorias da psicodinâmica do trabalho, básicas para compreender as interações entre trabalhador e organização e promover saúde e qualidade de vida do trabalhador. As categoria de análise são: organização e condições de trabalho; vivências de prazer – sofrimento; e estratégias de enfrentamento/mediação utilizadas. O texto conclui discutindo limites e possibilidades do uso de abordagens que se originaram partindo do referencial psicanalítico, e sua aplicabilidade no contexto organizacional.
Psicanálise: espaço para a invenção – Renata Versiani
O sujeito moderno confronta-se com um cenário de pobreza de experiências e histórias particulares, em oposição a um excesso de informações. O espaço analítico pode ser compreendido como um lugar de enlace do sujeito com sua experiência. Por meio da fala, ele pode reescrever sua história, desmanchando sentidos fabricando novos contornos ou uma nova relação com a sua vida. A fala adquire, assim, possibilidade de criação situando a Psicanálise no campo da invenção.
RESENHA
Posições tardias: contribuições ao estudo do segundo ano de vida
Autor: Oswaldo di Loreto
Rsenhado por: Sancha Maria Benvindo Lopes
TRADUÇÃO
O sonhar do psicanalista na sessão – La rêverie du psychanalyste en séance – Antonino Ferro, César Botella, Michael Parsons e Thomas Ogden
Tema de pesquisa de quatro renomados psicanalistas – Antonino Ferro, César Botella, Michael Parsons e Thomas Ogden – reunidos em “Debate sem fronteiras” no site da Sociedade Psicanalítica de Paris. A discussão foi trazida até nós, por iniciativa do Fórum Internet da SPB. Reunimos aqui os textos traduzidos.