Alter – 2009/2 – Simbolização e a fala do analista

SUMÁRIO & RESUMOS


ARTIGOS

Conversando com estranhos – Fred Busch
Resumo: Este trabalho utiliza a metáfora de “falar com estranhos” para enfatizar os variáveis graus de acesso que nossos pacientes têm a seus próprios pensamentos. Fundamentalmente, tendemos a esquecer o quanto as descobertas da psicanálise podem ser perigosas para o sentimento de bem-estar de nossos pacientes, em virtude de medos arcaicos sempre presentes. Subjacente à metáfora, existe a importância de analisar resistências inconscientes e o significado da interpretação para o ego pré-consciente. De fato, em torno destes conceitos há uma crescente concordância entre psicanalistas de referenciais teóricos muito distintos e divergentes.
Palavras-chave: Técnica psicanalítica; associação livre; análise das defesas; pensamento pré-consciente.


Da análise ao sonho, do sonho à análise. Espaço analítico e espaço onírico individual – um fragmento clínico – Vincenzo Bonaminio
Resumo: O trabalho focaliza o processo que vai da geração de um sonho dentro da situação analítica até a sua comunicação pelo analisando, tal como apresentado em um fragmento de análise. A transformação da configuração clínica da dissociação e da defesa maníaca do paciente em análise é considerada modelo para descrever a experiência do sonhar enquanto distinta do conteúdo do sonho como texto e como narração para o analista. A experiência do sonhar coincide com a experiência do analisando em análise.
Com referência peculiar a conceitos introduzidos por M. Khan, argumenta-se que o (re)criar-se, pelo trâmite da análise, de um espaço onírico individual, constitui o pré-requisito da experiência do sonhar enquanto incipiente experiência pessoal do self. O espaço onírico que está fora do texto do sonho, mas que é do sonho porque permite o sonhar apresenta-se, enquanto tal, “além da interpretação” do próprio sonho por parte do analista que permanece paradoxalmente excluído disso. Não é enquanto tal conhecível: trata-se do paradoxo de como pode funcionar um modelo intrapsíquico como é o sonho, em relação a uma experiência essencialmente intersubjetiva como é a análise.
A colocação do analista nesse paradoxo é a de procurar e de fornecer, para o trâmite do cenário analítico, o ambiente para a constituição do espaço onírico: um espaço colocado à disposição para ser usado de modo que a experiência do sonhar se realize.
Palavras-chave: sonho; espaço analítico; espaço onírico; experiência intersubjetiva.


A fantasia e o simbólico na cura: do não representável ao simbolizável – Juan Eduardo Tesone
Resumo: No texto, o autor afirma que são traumáticas as experiências que não puderam ser representadas, pois seus processos de ligação fracassaram, permanecendo fora do domínio do simbólico. Na clínica, essas experiências traumáticas requerem a construção (com valor de interpretação). Isso para que possam ser pensadas, qualificadas, nomeadas – e não somente o proceder-se ao trabalho de levantar a repressão para favorecer a rememoração.
Na relação transferencial de pacientes que sofreram traumas, convém estar atento a toda a semiótica do figurável, em particular às entonações do discurso, via de acesso ao não representado. Desse ponto de vista, o autor sugere que a psicanálise estaria na metade do caminho entre uma ciência conjetural e uma obra estética.
Palavras-chave: Simbolizável; fantasia; fantasma; figurável; incesto; traumático; representável.


Afinal, para que servem as teorias em psicanálise? – Julio Frochtengarten
Resumo: O autor procura examinar as possíveis articulações entre experiência clínica e o conhecimento formalizado nas teorias psicanalíticas. Reconhecendo que as relações entre prática e teoria sempre constituíram um difícil casamento, inicia o trabalho com um breve exame da história da teoria do conhecimento para, em seguida, examinar a questão da observação em psicanálise. Modelos literários e fragmentos clínicos são utilizados como ilustração no desenvolvimento do tema.
Palavras-chave: Teoria de observação em psicanálise; teoria psicanalítica <–> clínica psicanalítica.


Equívocos malignos – Paulo de Moraes Mendonça Ribeiro
Resumo: O autor parte da experiência clínica com um paciente borderline, que lhe remeteu à figura mitológica de Atlas, o herói que precisava manter céu (pai) e terra (mãe) separados à custa de sua eterna imobilização. O seu paciente “Atlas”, conjetura o autor, sofreu precocemente um “equívoco maligno”, conceito de Ronald Britton (1997) que tem como modelo a fantasia de que a união sexual pai + mãe resultaria na criação de um objeto interno hostil de qualidade terrorífica. A cena primária não é encarada como um evento criativo e gerador de desenvolvimento e prazer, mas sim como algo catastrófico, fonte de experiências traumáticas que devem ser evitadas a qualquer custo, prejudicando o desenvolvimento do indivíduo.
Partindo do vértice evolutivo da constituição da mente humana, o autor procura fazer uma microscopia do surgimento e desenvolvimento de fatores e funções da personalidade (Bion, 1962, 1965) na mente do bebê, correlacionando-os com o primitivo estabelecimento da situação edípica na mente do lactente. Como contraponto, propõe a microscopia do estabelecimento de uma situação edípica patológica, na qual o “equívoco maligno” acaba por gerar um “objeto-rejeitador-de-identificação-projetiva”, obstinadamente gerador de incompreensões e estados de desamparo.
Por meio dos movimentos transfero-contratransferenciais da relação analítica, propõe observarmos as transformações que podem sofrer os objetos internos enfocados como “fatores” da mente em interação com suas “funções”, bem como o desenvolvimento dessas funções psíquicas, a fim de possibilitar movimentos em direção a uma configuração estável da constelação edípica individual, criando um ‘espaço’ mental no qual “pensamento verbal” (Bion, 1956) pode se estabelecer.
Ilustra suas conjeturas com material clínico.
Palavras-chave: complexo de Édipo; fatores e funções da personalidade; caos; rêverie; equívoco maligno; personalidade borderline; objetos internos.


Solidão e desamparo na adolescência e sua relação com a triangulação edípica – Gisèle de Mattos Brito
Resumo: Este trabalho tem como objetivo refletir sobre o sentimento de solidão e desamparo nos adolescentes, que estão impossibilitados de estabelecer e elaborar a relação triangular edípica, o tanto quanto possível. Nesses casos, a análise entrará como um terceiro elemento que possibilitará a reconstrução, na transferência, dessa triangulação. Como resultado, busca-se mostrar a diminuição do sentimento de solidão e desamparo e a construção de uma condição interna no paciente para lidar com as angústias presentes na relação triangular. Ressalta-se, ainda, a importância da terceira posição (Britton, 1989) em que analista e paciente encontram-se mais livres para observar a si mesmos e ao outro.
Palavras chaves: solidão; desamparo; complexo de Édipo; triangulação edípica; adolescência; espaço triangular.


Compulsão, repetição e transgeracionalidade – Ana Rosa Chait Trachtenberg
Resumo: Uma insólita reação contratransferencial – a compulsão por lavar as mãos após o atendimento de uma paciente, como único sinal de uma doença infectocontagiosa em curso – remete a reflexões sobre o irrepresentável, o uso do corpo, os segredos transgeracionais, as pulsões de vida e de morte, as identificações projetivas e alienantes. O sintoma no analista remete à questão: o que nos resta para além do sintoma? O que mais pensar além de: algo estranho está ocorrendo e não sei o que é? Ou: o que temos além do corpo demoniacamente utilizado? O corpo, o sintoma, são as últimas trincheiras da pulsão de vida, muitas vezes colocadas por nossos pacientes em nossas mãos como expressão e denúncia de segredos transgeracionais, conjugados com a pulsão de morte no corpo e na mente.
Palavras-chave: compulsão; repetição; segredo; corpo; contratransferência; transgeracionalidade; identificação alienante; irrepresentável.


A visão da psicanálise para os fenômenos compulsivos, impulsivos e aditivos nos transtornos alimentares – Marina Ramalho Miranda
Resumo: Apresento, neste trabalho, reflexões teórico-clínicas a respeito das dimensões compulsiva, impulsiva e aditiva das perturbações alimentares, focalizando a atenção para o início do desenvolvimento da capacidade de representação simbólica, formação de símbolos e primeiras relações objetais, sustentando a ideia de que a psicanálise faz-se imprescindível na compreensão diagnóstica e de tratamento desses fenômenos.
Palavras-chave: transtornos alimentares; fenômenos compulsivos; impulsivos e aditivos; símbolos.


FORMAÇÃO

A análise do analista: re-análise – Alícia Beatriz Dorado de Lisondo
(sem resumo)


Vicissitudes do campo transferencial nas análises de formação – Regina Lúcia Braga Mota
Resumo: A autora tece considerações a respeito da complexidade do campo transferencial que se instala nas análises de formação, desde a escolha do analista até o término da análise e seus resíduos. Reconhece a influência intrusiva da instituição na dupla analista-analisando. Indica que, nestes casos, o analista tem que estar muito atento à sua contratransferência no momento de interpretar. Sugere ainda que os analistas se interroguem a respeito do seu desejo de requerer a função didática e ressalta a importância de uma qualificação criteriosa dos membros para esta função.
Palavras-chave: contratransferência; campo transferencial; formação analítica; instituição psicanalítica.


ENTREVISTAS

Entrevista com Alcira Mariam Alizade


LEITURAS

– La pareja rota: ensayo sobre el divorcio 
Autor: Alcira Mariam Alizade
Resenhado por Kátia Barbosa Macêdo

– Presença sensível – cuidado e criação na clínica psicanalítica
Autor: Daniel Kupermann
Resenhado por Márcia Anunciação da Costa Vasconcelos

– Origens de Winnicott
Autor: Roberto B. Graña
Resenhado por César Bastos

– Comentários sobre o filme “Assédio”
Beatriz Trocon Busatto

Produtos & Serviços

Boletim Informativo

Notícias da SPBsb

Calendário​

Atividades da SPBsb

Jornal Associação Livre

Ensaios de psicanálise

Alter

Revista de Estudos Psicanalíticos

Textos psicanalíticos

Temas da contemporaineidade