Fragmentos existenciais I

Felicidade é um instante, um tempo passageiro, que quando não para vai em direção ao delírio, ao estado de “excitação maníaca apontando para a morte no prazer”. Lidar com o bom é uma virtude que evita o mesmo a se transformar no grandioso.

No estado de dependência completa e fusional entre dois amantes, o amor ainda não chegou. São dois desesperados com pânico de não poder viver a sua solidão. A dificuldade do ser humano é realizar que uma relação amorosa é uma relação de juntos e separados.

Morrer é uma experiência que só se vive na vida. Quem atenta contra a própria vida, o faz para não ter que conviver com o ódio a si mesmo; a angústia existencial do viver; a finitude e a condição ser um animal humano.

A grande maioria das pessoas não pensa. Pensar, além de ser uma experiência racional, lógica, não pode prescindir do emocional. Pensar é gostoso, mas dói, pois sempre é de fora para dentro. Caso contrário, é uma operação vazia de significados existenciais.

Num dos belos poemas do escritor moçambicano Mia Couto, “Cego”, ele termina seu canto poético com o seguinte verso: “Cego é quem só abre os olhos quando a si mesmo se contempla”. Bela elaboração da arrogância narcísica tão cantada nos tempos atuais.

Numa conversa com meu querido amigo poeta Affonso Romano de Sant’Ana, ele me afirmava: “Carlos, você sabe quando uma pessoa está lendo e se lendo em Clarice Lispector? É quando a gente percebe que a pessoa está carregando o livro no calçadão de Copacabana com um andar de quem está com labirintite.”

Na primeira página do seu importante texto (ela não gostava de falar que escrevia romances), Clarice escreve a “possíveis leitores”: “Este livro é como um livro qualquer. Mas eu ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada. Aqueles que sabem que a aproximação do que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente — atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai aproximar…”

Curiosamente, eu ouvi isso de uma pessoa que me afirmou que leu ‘A Paixão Segundo G.H.’ numa noite de sábado! Consumir não casa com cultura. Que lástima!

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