O feminino e a cultura

Por Cowap-SPBsb

No início do mês de maio aconteceu o debate sobre “O feminino e a cultura” no Centro Clínico do Lago, organizado pela Comissão de Comunidade e Cultura da SPBsb. O evento se insere na programação regular da Comissão, que realiza debates mensais com a participação de convidados para um diálogo com a psicanálise sobre os mais diversos temas.

A coordenadora da Comissão, Lúcia Passarinho, abriu o debate com a participação da psicóloga e professora da UnB, Valeska Zanello, e a psicanalista da SPBsb e socióloga Almira Rodrigues.

Valeska apresentou as ideias básicas de seu livro Saúde mental, gênero e dispositivos – Cultura e processos de subjetivação (Curitiba: Appris, 2018), lançado recentemente. Destacou que o sofrimento apresenta-se de forma gendrada e que os processos de subjetivação (tornar-se mulher e tornar-se homem) são moldados por tecnologias de gênero e pela utilização de pedagogias afetivas. Essas pedagogias, por sua vez, sustentam processos de colonização afetiva que aprisionam as mulheres mediante a internalização da sujeição/subordinação.

Discorreu sobre como as mulheres são conformadas pelo dispositivo amoroso e pelo dispositivo materno, e os homens, por sua vez, conformados pelo dispositivo da virilidade sexual e laborativa. Destacou as desigualdades e relações de dominação na sociedade patriarcal e o impacto do sexismo e do racismo sobre a saúde mental das pessoas.

Almira delimitou o entendimento dos termos feminino, feminilidade e cultura e afirmou uma perspectiva de diversidade e pluralidade, alinhada aos tempos pós-modernos. Nesse sentido, questionou a perspectiva universalizante do feminino, bem como a visão binária (feminino-masculino) e o alinhamento automático entre corpo, identidade de gênero e desejo/prática sexual, como vem sendo analisado por Leticia Glocer Fiorini. Destacou as mudanças em curso na sociedade, respaldadas pelos avanços da ciência e da tecnologia, pela prática dos movimentos LGBTIQ, pela legislação e pelas políticas públicas. Ressaltou a importância do Comitê Mulheres e Psicanálise da IPA – Cowap, criado em 1998, e de seus estudos, com destaque para sua primeira coordenadora, a psicanalista argentina Marian Alizade, que cunhou o termo “quarta série complementar”, referindo-se aos fatores sociais, culturais, históricos e políticos afirmando assim a sua importância na constituição do psiquismo dos sujeitos.

Seguiu-se um debate com a plateia em torno de questões levantadas, destacando-se os seguintes temas: as pressões e dificuldades para se assumir uma sexualidade diferente da heteronormatividade; as relações entre maternidade e loucura; o papel das mídias na formação da subjetividade; as mudanças nas relações de gênero nas novas gerações; as implicações transferenciais no processo analítico e a mobilidade psíquica necessária aos analistas; e a ausência de questões fundamentais na formação analítica, a exemplo da problemática racial.

Por fim, destacou-se a atualidade da temática em pauta, lembrando que o próximo Congresso Internacional da IPA, a realizar-se em 2019, em Londres, tem como tema “O feminino”. Será uma oportunidade especial para que se atualizem as representações sobre o feminino e a feminilidade, promovendo-se as expansões e revisões necessárias para o contexto da contemporaneidade.

Artigo publicado no Boletim Informativo da SPBsb – nº 1 de 2018 – para ler o Boletim na íntegra, clique aqui

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