O sentimento de luto

O sentimento de luto é uma experiência decorrente da perda de alguém querido, da perda de um ideal, de um animal de estimação e da perda de uma ilusão. A vida da gente é permeada desde o nascimento, de situações de ganhos e perdas. A vida é finita, a morte é anunciada quando se nasce. Nada é eterno ainda que se tenha e se alimente a fantasia de infinitude. Entretanto a experiência mostra que o ser humano é uma constante transformação de células que nascem, outras que morrem e outras que se renovam. Assim é a condição humana, ser mortal e de que sua vida tem fim – a morte é nossa herança, mesmo que às vezes se odeie esta verdade.

Pois bem, já que perdemos, já que nossos entes queridos morrem, já que nosso ideais às vezes não são realizados, precisamos desenvolver a capacidade de fazer luto, de saber sofrer  perdas. O Luto é uma reação normal, fisiológica, psicológica, com começo meio e fim. Quando perdemos alguém que se ama, passamos por um estado de muita dor psíquica: revolta natural, raiva, ódio, e dizemos: porque fizeram isto conosco, porque Deus tirou a vida da pessoa, enfim, atribuímos à perda como um fato contra nós. Essa atitude é de negação, de recusa a não reconhecer que a morte se impõe como realidade, não é contra ninguém. Do mesmo modo reagimos com indignação quando vemos que alguns dos nossos desejos, projetos, sonhos, não se realizam. Viver nossos lutos é ter humildade para saber  perder, para sobreviver essa dolorosa experiência: daí o luto ter um tempo adequado para nos refazermos do trauma. Como isso pode ser possível? Chorando, entristecendo e lembrando das situações boas que passamos com a pessoa que se foi, assim como nos acostumando que uma saída para fazer o luto é ter a pessoa dentro de nós. Só se consegue atravessar o luto aquele que pode carregar em seu interior, dentro de si, a pessoa amada e ter saudade dela. A saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa, é um sentimento triste,  mas integrado, para se preencher a falta de alguém ou de alguma coisa. É na saudade que lembramos, que recordamos o bom que alguém nos foi, e  paulatinamente vamos retendo na memória a imagem de uma pessoa viva. Aquele que perdemos se mantém vivo dentro de nós, caso o amor tenha predominado nessa relação. Com isso, quero frisar que podemos atravessar essa turbulência  sem transformar o luto em depressão ou melancolia.

A depressão é o ódio à perda. A depressão é a impossibilidade de saber perder, ainda que isso seja doloroso. Existem pessoas que se revoltam, que não admitem a falta, que reagem com furor e raiva. e desenvolvem uma atitude de recusa à realidade. Perdem o sentido de viver, não encontram mais força para refazer sua vida e terminam por pautarem sua existência com queixas, lamentos, revolta e um sentimento de apatia permanente – estamos diante de uma depressão grave ou melancolia. Necessitam de uma psicoterapia e não muito infrequentemente, de um tratamento com antidepressivo. Em resumo: depressão é realmente ódio à perda.

Lya Luft, poetisa, contista e romancista, em seu belo livro – Para não dizer adeus, Editora Record, Rio de Janeiro, nos brinda com esse profundo poema: “ Perder, Ganhar” –

“Com as perdas, só há um jeito:
Perdê-las.
Com os ganhos,
O proveito é saborear cada um
Como uma fruta de boa estação.
A vida, como um pensamento,
Corre à frente dos relógios.
O ritmo das águas indica o roteiro
E me oferece um papel:
Abrir o coração como uma vela
Ao vento, ou pagar sempre a conta
Já vencida.”

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