“A crise consiste precisamente no fato de que o velho morre e o novo não pode nascer: neste interregno se verificam os fenômenos mórbidos mais variados”
(citação de Alvaro Bianchi – “A Democracia de Tancredi e a do Doutor Pangloss”
– Revista Cult – setembro/2017)
Outro dia, um grande amigo psicanalista, conversando sobre nuances do sofrimento humano, afirmou: “precisamos ter cuidado com a história dos três ‘E’: esperança, expectativa e exigência”. Esse fim de semana, no artigo de Alvaro Bianchi, A Democracia de Tancredi e a do Doutor Pangloss, escrito no último número da Revista Cult, fazendo parte de um dossiê “Réquiem para uma nação” (tema da Revista em questão), fiquei impressionado com a clareza do artigo e também pensativo, associando com a história dos três E.
Estamos vivendo uma agonia permanente em nosso Brasil. Agonia, e para alguns, uma moderada crise de pânico. Estamos sem esperança, desamparados, frustrados profundamente em nossas expectativas e impotentes para fazer qualquer exigência de sairmos, ou pelo menos, criarmos alternativas para um novo estado político.
No artigo de Alvaro Bianchi há um parágrafo forte, doloroso e sintomático da crise brasileira. Escreve ele: “A recente pesquisa da Ipsos a respeito da democracia no Brasil permite testar essa hipótese gramsciana. Dentre os entrevistados, 94% disseram que os políticos brasileiros no poder não representam a sociedade; 81% pensam que o problema não está nos partidos e sim no ‘sistema político’; e apenas 38% consideram que a democracia é o melhor regime político”. A devastadora conclusão do coordenador da pesquisa, Rupat Patitunda, foi que a “democracia no Brasil, desta forma, não é representativa”. Penso que o mais grave é a falência do sistema político, onde os eleitos não têm nenhum compromisso com a demanda dos eleitores.
Caro leitor, isso é muito grave, delicado, ameaçador, fato que agonia a população, opinião que nos deixa perseguidos com o que acontecerá em 2018, como futuro da nossa jovem e insegurança democracia. Ouve-se da maioria dos críticos a labilidade do regime democrático atual, aqui e em todo o mundo; a falência do sistema político, onde nossos representantes não nos representam, os “gritos da rua” não são ouvidos pelos políticos e governantes. Todos esses fatores criam risco de soluções autoritárias, nacionalistas por excesso, populistas idealizadas e, quem sabe, “fundamentalistas” tanto em meio partidário, quanto empresarial e governamental. Realmente, não se dão conta que as “reformas” propostas desmantelam os direitos sociais, a política de aposentadoria e a maior desigualdade entre classes.
Esperança? Expectativa? Exigência? Que país teremos daqui a uma década? Que reforma política assegurará que não cairemos numa crise maior, com perigo de desestabilização social? Que esperança nos resta em restabelecer uma harmonia entre os três poderes? Estamos numa crise grave de “identidade” no sentido político e institucional. Estamos vivendo um desamparo, condição fácil para se eleger um salvador populista ou um reformista ditatorial.