A apreensão da realidade

           

       

          Em seu livro último, A Vida do Espírito, Hannah Arendt escreve uma questão interessante a se pensar quanto a apreensão da Realidade “O pensamento, e a linguagem  que o acompanha, necessita – à medida que ocorre em e é pronunciado por um ser que se sente em casa no mundo das aparências – de metáforas que lhe possibilitem preencher a lacuna entre um mundo dado à experiência sensorial e um domínio onde tais apreensões imediatas de evidência não podem existir. Mas as nossas experiências de alma são de tal modo corporalmente limitadas, que falar de uma “vida interna” da alma, é tão pouco metafórico quanto falar de um sentido interno graças ao qual temos claras sensações sobre o funcionamento ou o não funcionamento dos órgãos interiores. É óbvio que uma criatura privada de espírito não pode viver nada semelhante a uma experiência de identidade pessoal…”

(Fragmentos do pensamento de Arendt em seu ensaio O Pensar, no mesmo livro citado acima).

Pensemos, prezado leitor, na importância da Filosofia, da Poesia e da Psicanálise quanto às suas figuras de metáforas!!!

O fragmento de Hannah Arendt, quando escreve: “Nossas atividades espirituais, ao contrário, são concebidas em palavras antes mesmo de ser comunicadas, mas a fala é própria para ser ouvida e as palavras são próprias para ser compreendidas por outros que também têm a habilidade de falar… é inconcebível pensamento sem discurso, pensamento e discurso antecipam um ao outro”, nos remete a angústia de Clarice Lispector  em seu livro Água Viva quando pesquisa profundamente o reino das palavras e seus sentimentos antes da palavra surgir.

Na investigação psicanalítica, nos diálogos da sala de análise é mister, a cada dia, encontrarmos uma linguagem que nasça da relação dos dois. Procurar a palavra para transmitir e colaborar com a experiência íntima da alma, requer um trabalho de “artesanato” onde predominam as questões ligadas à racionalidade e a capacidade intuitiva da dupla. “Tudo que eu queria era andar numa terra que não tivesse mapas”, fragmento de Michael Ondaatje, citado por Marli Fantini no livro: Guimarães Rosa – fronteiras, margens, passagens, Editora Ateliê Editorial, 2ª edição, 2008.

 

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