A confiança em ser amado

            

                  A carência maior de uma pessoa diz respeito à dúvida em ser amada, ou também ao seu desamor por si próprio. Desde infante, o amor maternal, quando se tem realmente, é o exemplo maior do “amor incondicional”. Esse amor sempre será procurado nas relações afetivas que a pessoa terá como escolha em sua vida.

Quando falta essa “certeza necessária”, vez por outra ou de um modo mais frequente, sempre se tem uma carência, uma necessidade de ser reassegurada que se é amado. Isso, às vezes, toma a forma de uma permanente insegurança como também um sentimento constante de baixa auto-estima. Vivemos numa cultura onde egoísmo é sempre visto como um sentimento pejorativo, proibido, que exclui os outros; o egoísmo, hoje chamado pelo psicanalista de “narcisismo de vida”, é um direito de todos, é uma fonte de amor permanente por si mesma e não um desprezo pelo outro.

Nosso poeta maior, Carlos Drummond em seu importante poema Amar, lembra que “Este é o nosso destino: amor sem conta/distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,/ doação ilimitada a uma completa ingratidão,/ e na concha vazia do amor a procura medrosa,/ paciente, de mais e mais amor./ Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa/ amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita”.

É claro que o “amor incondicional” é uma metáfora do amor de mãe, mas é importante e necessário que o objeto de amor transmita sempre uma certeza relativa que se é amado. É necessário que se diga também que, uma pessoa muito voraz, muito gulosa e pretenciosa sempre se sentirá insatisfeita, pois por mais que outro lhe ame, considere, é pouco. Alguém, uma vez, chamou uma pessoa assim, “pessoa que tem uma boca oceânica”. Só a plenitude, só o tudo, o completamente cheio lhe satisfaz, mas isso é uma fantasia. A plenitude eterna é coisa paradisíaca e não pertencem às pessoas que são “anjos caídos”.

“Que pode uma criatura senão,/ entre criaturas, amar?/ amar e esquecer,/ amar e malamar,/ amar, desamar, amar?/ sempre, e até de olhos vidrados, amar?”, lembra-nos Drummond no começo do seu poema!

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