A Filosofia parece um bicho de sete cabeças para a população em geral. É claro que hoje em dia, os nossos jovens são pouco preparados, pois os nossos currículos deixam a desejar nas escolas básicas. O máximo que fazem é apresentar noções superficiais para fazer face aos vestibulares. Lamenta-se, pois o exercício de pensar, de refletir e de aplicar os conceitos filosóficos na própria vida ainda é tido como desprezível.
Filosofia sempre foi sinônimo de teoria reflexiva sem importância prática. Isso mudou, e mudou principalmente com as questões na filosofia francesa do século XX. Numa bela introdução ao seu livro: “A aventura da filosofia francesa no século XX”, o filósofo Alain Badiou mostra de uma maneira didática, o que aconteceu com os pensadores franceses naquela época.
Vindo de influências do momento clássico grego (Parmêmides e Aristóteles, do século V a.C ao III a.C.) quanto ao movimento do idealismo alemão (Kant a Hegel), incluindo Fichte e Schelling, os filósofos da França foram construindo um movimento novo, uma grande contribuição à filosofia universal, com as ideias de Jean-Paul-Sartre, Deleuze, Bachelard, Merleau-Ponty, Lacan, Derrida, e toda a influência das pesquisas de S. Freud, inclusive admitindo e criticando o “mago de Viena”. Alain Badiou questiona: “O que a filosofia francesa foi buscar na Alemanha?” Podemos resumi-lo em uma frase: uma nova relação entre o conceito e a existência, que recebeu diversos nomes: desconstrução, existencialismo, hermenêutica. Lendo o texto ficamos com a questão central: a intenção foi modernizar a filosofia, além da importância da sexualidade (Freud), do formalismo da álgebra ou da lógica, pensar numa filosofia que saísse do âmbito somente acadêmico e pudesse ser usada na política (todos esses filósofos eram engajados em movimentos políticos) e na vida como ela é.
Com a estreita ligação com a Literatura, escreve o autor que é hora de se ter um filósofo-escritor, coisa que já vemos nos dias atuais, inclusive em nosso país. A filosofia ia tomando uma nova cara no sentido de ser ligada, na prática, com a existência, o pensamento, a ação e política.
“Fazer do filósofo outra coisa além de um sábio é fazer dele outra coisa além de um rival de um padre: fazer um escritor combatente, um artista do sujeito, um amante da criação. Escritor combatente, artista do sujeito, amante da criação, militante filosófico são palavras para esse desejo que atravessou esse período e que era que a filosofia agisse em seu próprio nome”, realça Alain Badiou em seu texto. Coisa que vemos estar surgindo em nosso país a cada dia, pela esteira de filósofos como Karnal, Viviane Mosé, Pondé, Cortella e outros. Fica aqui a dica para ler o importante texto de Alain Badiou.