Em seu livro The Authoritarian Personality (Personalidade Autoritária), Theodor Adorno, pensador e filósofo da Escola de Frankfurt, escreveu: “Padrões de personalidade que foram rejeitados por serem ‘patológicos’ porque não combinavam com as tendências mais comuns e manifestas ou os ideais mais prevalentes numa sociedade, numa análise mais profunda mostraram ser nada mais do que manifestações exageradas daquilo que era quase universal sob a superfície daquela sociedade. O que hoje é ‘psicológico’ pode, com a mudança nas condições sociais, tornar-se a tendência dominante de amanhã”.
Note-se que isso foi escrito em 1950, e o amanhã chegou à maioria das nações, inclusive na nossa, com as notícias e ameaças noticiadas na mídia sobre o risco de mudanças autoritárias de regime. Nossa imberbe Democracia está a cada dia mais em riscos. É preciso que os jovens tenham ideia do que é a Ditadura em todos os sentidos, inclusive a Ditadura dos Partidos Políticos.
Outro dia, um grande amigo meu após ler uma matéria que publiquei, alertou para a necessidade de escrever algo sobre o que ele chamou de “síndrome de infantilismo e dependência do brasileiro”. Pensei, pensei, e ocorreu-me que somos filhos legítimos da “Colonização”, ato contínuo, somos ainda um povo que tem em sua personalidade uma tendência a ser “colonizado”. Fomos por Portugal (deveríamos ter ficado com os holandeses); logo após vivemos a escravatura de um Império; importamos sempre os modelos estrangeiros; colonizados fomos também pelas ditaduras e colonizados ainda somos por uma sociedade capitalista selvagem que vive e sobrevive da exploração humana.
Quando teremos a coragem de nos libertar da dependência patológica ao Estado? O infantilismo de uma pessoa, de um social ou de uma sociedade, perpetua uma condição na qual as soluções virão sempre dos “nossos pais”. Mas, “nossos pais”, é bom lembrar que transferimos esse modelo para os “salvadores da pátria”, para os ditadores, partidos políticos e todos eles não nos asseguram que estão preocupados em colaborar com o crescimento dos “filhos”.
E aí? O que nos resta? Desenvolver nossos próprios recursos, assumir nossas responsabilidades sociais, termos a coragem de Ser e não de Parecer-ser. Caso contrário, continuaremos filhos do fundamentalismo distribuído entre os vários poderes instituídos. “Quando instituições (pais, igreja, família ou lei) caem aos pedaços, comumente é o mais fraco que sofre”. Bela reflexão feita por Stuart Jeffries em seu recente livro traduzido Grande Hotel Abismo – A Escola de Frankfurt e seus Pensadores, editado nesse ano pela Companhia das Letras.