A transitoriedade do viver

“Deixo que o inevitável dance, ao meu redor
A dança das espadas de todos os momentos.
E deveria rir, se me restasse o riso,
Das tormentas que pouparam as furnas da minha vida,
dos desastres que erraram o alvo do meu corpo.”.

 

Estrofe do poema “Consciência Cósmica” de Guimarães Rosa, em seu livro “Magma”.

A vida é sempre um mistério e nunca será desvendado, ainda que todos os homens de ciência se aprimorem.

Viver é um primeiro grito do infante que perde sua ilusória experiência paradisíaca.

O grito é a primeira expressão corporal, por excelência, em busca do prazer, do acolhimento e da expectativa que o mundo externo, real, seja o menos aversivo possível.

Angústias, morte precoce, pais e mães faltantes afetivamente, alegrias, acolhimento, amorosidade, todos esses eventos mesclam a dança dos contrários e a incerteza do futuro.

“Das tormentas que pouparam… dos desastres que erraram o alvo do meu corpo”, está aí a  metáfora do poema rosiano.

Entre tempestades e naufrágios , a sorte e o imponderável não traumatizaram  pessoas a ponto de interromper os passos de um dança gostosa e bela. Viver é sempre um trânsito, numa estrada cheia de veredas, encruzilhadas, que se abrem em rosas assim como espinhos!

No primeiro verso, o poeta mostra  a ousadia de bailar o que não se controla, mas nem por isso se perde a capacidade criativa de ter pensamentos no desespero, e evitar assim, ações suicidas, homicidas e perversas.

Outro dia alguém me relatou uma vivência dócil: acordou disposto, sentido uma parceria feliz entre seu corpo e sua mente, animado, ávido para trabalhar. Ao sair de casa, beijou carinhosamente  sua esposa e seus três filhos, de uma maneira que não era comum.” Sentí  no profundo do  meu ser, uma delicadeza amorosa que se morresse naquela hora, morreria em estado de êxtase. Pensei e viví imediatamente o inusitado, numa época em que as pessoas vivem uma vida de excesso de individualidade e egocentrismo”.

Esses momentos transitórios de prazer e felicidade urgem serem vividos intensamente, não com o desejo de eternizá-los ( a felicidade é um sentimento transitório ). Tudo que é eterno, absoluto, infindável, perene, não pertence ao reino dos mortais. Somos únicos a cada dia, e isso nos faz viver intensamente momento a momento.

Sejamos ousados e criativos para curtir a vida como um instante, um trânsito, uma viagem que inevitavelmente terá uma estação final; aquela que é impossível construir mais trilhos!

Deixemos que o “Inevitável dance” e recolhamos força de vida para bailar um tango que acabe não em tragédia, mas sim nos enlaçamentos de “pernas afetivas” transformando os momentos da vida num nascer sem traumas trágicos.

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