Convido o prezado leitor para refletir hoje sobre a questão da aparência e da verdade nos dias atuais. Nunca se falou tanto na necessidade de preservar a ética nesse mundo de mentira, falsidade e corrupção. A sociedade atual carece de pilares de sustentação da integridade psíquica, emocional e ética da pessoa humanas. Convivemos a cada dia com a filosofia do consumo, do prazer pelo prazer, da comilança, da voracidade, do Ter e não do Ser. Ato contínuo, essa forma de existir só se sustenta na aparência de ser.
Sabemos que desde pequena, a criança necessita de modelos para identificação e consequente feitura da sua Identidade. Daí a pergunta: como imaginar uma identidade estável, coesa, estruturada, quando falta a noção de lei, de limites, de Deus e de fé? Não me refiro aqui na fé do misticismo fundamentalista, mas na crença interna da esperança de uma condição ética no ser humano, no governo e nas instituições. Nossos filho e netos vão se inspirar em que modelo de aprendizagem?
No modelo da aparência, do fazer de conta, do como-se e não, nas relações que brindam consideração, respeito, afetuosidade, compaixão e gratidão. Sofremos da falta de coragem para sermos verdadeiros, pois a verdade ainda que dolorosa é a base da ética. O alimento da alma é a verdade. Não a verdade moralista, mas a capacidade de reconhecermos as nossas virtudes e nossos defeitos e, principalmente dos nossos defeitos, tirarmos proveito.
Quem não alberga dentro de sua alma a voracidade e a inveja? Precisamos apreender que esses dois sentimentos são uma tentativa de ter e de ser mais: tudo bem, é um direito querer mais, querer crescer, expandir e evoluir. No entanto, diferente é usar o outro, explorar e até roubar para tirar tudo para si. Vivemos e lemos a toda hora, como os crimes de formação de quadrilhas a cada dia são descobertos, quadrilhas de pessoas do poder que pela própria vantagem do poder saqueiam a sociedade. A juventude ouve, pensa, reflete e deduz o que?
Dentro de sua própria casa mora o exemplo. Como votar? Como escolher alguém para beneficiar a comunidade? Como acreditar que são verdadeiros os nossos pais, os responsáveis pela educação, pelo bem social? Vazio, falta de fé, tristeza, depressão e ausência de esperança é a consequência lastimável em que vivemos. Na saúde mental nunca se falou tanto em depressão; nas relações ditas afetivas, nunca se desconfiou tanto da afetuosidade. As droga-adições chegaram às pessoas.
Hoje, penso, que o maior vício é “consumir os outros” não estabelecendo com eles uma relação de troca, de expansão dos dois, de parceria e consideração mútuas. Hoje predomina uma desumanização do animal-humano, o que nos torna mais animais. Aqui fica a reflexão: como podemos contribuir para sensibilizar os órgãos competentes no sentido de programas de prevenção de saúde pública mental?
A aparência de um Brasil crescido, potencia emergente é sinônimo de crescimento humano, psíquico, ético? “Assim é(se lhe parece)” é uma peça teatral de Luigi Pirandello, recentemente traduzida para o português por Sergio N. Melo e editada pela Ed.Tordesilhas-SP, que aconselho ao leitor. Uma bela metáfora sobre Aparência e Verdade.