Psicanálise da vida cotidiana – Brazilian Way Of Life – 21/12/16

Alex é um adulto jovem, 32 anos, formado em Administração de Empresas por uma bela e competente Faculdade do país. Sua origem vem de uma família tradicionalmente aristocrática, onde seus pais cultuaram o fato de pertencerem a uma maioria, à classe dominante. Ruralista, seu genitor atira-se na política e desde então vive as benesses do poder, da usurpação do poder para benefício próprio. É membro de um grupo tanto social quanto partidário, dominante no governo municipal, estadual e federal.

O ambiente familiar de Alex delineia uma vida, por excelência burguesa, consumista e dirigida ao lucro cada vez maior, com as facilidades dos contatos no poder, enriquecimento pouco lícito e por demais ilícito. Dentro do lar coexistem diplomáticamente quatro pessoas: sua mãe, seu genitor, uma irmã mais nova e o nosso Alex. Estudou em colégios renomados, muito embora sempre preocupados não com uma boa educação, e sim fazerem tudo para que seus alunos cheguem à universidade.Cultura Humanística, zero. Hoje em dia é assim: já não se ensina e incentiva cultura, ética, formação humanística, e sim uma aprendizagem tipo atlética, ou seja, competir para fazer uma carreira lucrativa sem se preocupar com questões relativas ao Ser e sim ao Ter.

O melancólico Alex, depois esclareço o adjetivo, nasceu, cresceu e convive nesse meio familiar e social. Em casa reina sempre uma” lei comportamental”: qualquer conflito, qualquer aborrecimento, diferenças de opiniões serão enterrados embaixo do “tapete” e vamos tocar a vida para frente! Na casa do meu personagem não se conversa sobre questões humanas, cultura, opiniões politizadas e éticas. A filosofia educacional dos pais é: como fazer para obter prazer, lucros, influências no poder e competir de uma maneira selvagem para sempre auferir privilégios. Um psicanalista poderia ter uma conjectura razoável: um grupo humano que não sabe o que é afeto, afetuosidade, consideração pelo outro, respeito pelas diferenças e qualquer outro sentimento de civilidade e sociabilidade. São famílias vazias criando filhos e filhas melancólicos, depressivos. O Capitalismo Selvagem, o poder dos Governos atuais e a Ideologia do Individualismo Arrogante, nascem provavelmente de uma estrutura familiar, grupal, partidária, que habita a origem do nosso conhecido Alex, e dos vários Alexes do mundo pós-morderno.

Pois bem, caro leitor, você deve pensar o que pretendo ao descrever essa narrativa peculiar à maioria dos grupos familiares detentores do poder, não por merecimento e sim, por exploração voraz, ávida e desumana. Hoje Alex encontra-se formado, enriquecido, participante de uma minoria de adultos jovens que aparecem sempre na mídia e nas casas noturnas da cidade. Carro importado, desfilando com “gatas”, verdadeiras patricinhas, criando confusões, brigas e agressões físicas sempre que frustados. Alienados e despolitizados. Duvido que esse jovem adulto ( e outros ) conheçam algo de arte, teatro, cinema, noções ético-filosóficas, música erudita , jazzística ou mesmo um bom rock que não seja para ensurdecer sua consciência afetiva e social.

Infelizmente é esse animal-humano que dei um nome de Alex que nunca procurará ajuda ou se procurar, apresenta-se evidenciando uma estória de depressão, vazio existencial, falta de sentido na vida, falta de consciência , quando não submergido meio às drogas pesadas, aos atos psicopáticos, criminosos e de completo desrespeito ao ser humano. É uma vítima? Sim e não, pois desde pequeno teve sua parte de responsabilidade ao fazer um pacto com seus pais e pares. Não acredito e falo sempre: ninguém é uma folha em branco, produto dos outros, simplesmente.É óbvio que é inegável a parte ambiental, a influência do meio, mas temos nossa constituição, nossa carga genética, além de sermos sempre – animais-humanos, ou seja, parte bicho, parte gente. Compete-nos civilizar nossas tendências egocêntricas, destrutivas, vorazes, gulosas e narcísicas para que não tripudiemos e triunfemos sobre os semelhantes.

Termino com uma sacada belíssima do poeta africano, moçambicano, Mia Couto, em seu livro – Raiz de Orvalho e Outros Poemas, Editora Caminho, Lisboa, 1999:

Destino

À ternura pouca

Me vou acostumando

Enquanto me adio

Servente de danos e enganos

Vou perdendo morada

Na súbita lentidão

Que vai me sendo disperso

Conheço minha morte

Seu lugar esquivo

Seu acontecer disperso

Agora

Que mais

Me poderei vencer?

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