Esperança ou Compulsão à Repetição?

O conceito de “compulsão à repetição” de Freud é talvez um aviso e um desalento que o pai da psicanálise escreveu. Repetir é uma ação de aprendizagem, sempre, pois é no sempre fazer, refazer, inovar e expandir que a pessoa alastra seus conhecimentos e suas descobertas tanto no plano científico como pessoal. Refiro-me aqui ao fato de “repetir” como ferramenta do Ato Criativo, por exemplo: ler, reler, estudar, estudar arte, música, fazer ciência, atividades que sempre se retira proveito toda vez que se repete. Quando se sái de casa e, por questões várias se volta, nunca se é a mesma pessoa, a não ser que esse indivíduo não tenha aprendido com sua experiência.
Estamos diante da perspectiva de um novo governo, um governo que recebe o clamor da comunidade, principalmente naquilo que toca ao modo de gestar a Nação, de fazer Política de uma maneira madura, e de não repetir a velha conduta imperial, aristocrática, tipo “casa grande senzala” onde o binômio patrão e escravo fazem um concluio para a preservação da dominação, espoliação e manutenção do poder.
Já não se admite mais uma política baseada na perversão de conchavos entre governo, grupos partidários, empresariais, onde a finalidade é atender voracidade e gula pelo enriquecimento ilícito, tirando do poder público, do erário e dos impostos pagos pela população toda uma riqueza de bilhões e bilhões que enchem os bolsos da classe dominante. Acabamos de sentir na pele, outra vez, o grande assalto denunciado pelas operações federais a que fomos submetidos por facções partidárias e empresariais deixando nosso Brasil novamente falido. Compulsão à repetição é um conceito freudiano que aponta para atos destrutivos, contrários à criatividade e ao crescimento. Repete-se para não mudar e, acima de tudo, para manter os benefícios pessoais, narcísicos, egocêntricos de pessoas e grupos de pessoas em direção ao acumular riqueza e poder. Somos testemunhos da forma de governar fazendo alianças perversas que têm todos os desejos menos aqueles preocupados em benefício da população, do povo, da comunidade e da justiça social.
Ainda sabendo da necessidade que todo governo não governa sem alianças, sabemos também que a questão é a qualidade dessas alianças. É tempo de Meritocracia, é tempo de pensar socialmente, é tempo de abrir mão no poder, de transformá-lo em vantagens de pequenos grupos. Nada acontecerá de novidade se, o próximo governo, seja ele qual for, negar a reforma política, a estabilidade econômica, a educação, a saúde, como se os “escravos” além de não ter garantias de suas “alforrias” não tivessem também condições de sair de suas “senzalas”. Nas “senzalas” só sobrevivem as doenças, as feridas de açoitamento ético, de falta de respeito aos direitos humanos, de empobrecimento e de uma relação sadomasoquista mútua entre patrão e empregado. Sem reforma política continuaremos a ser uma nação de terceiro mundo, vivendo às custas de um comportamento psicótico onde a alegria é o carnaval, o futebol e o samba, resquícios do “Banzo”, sofrimento depressivo dos nossos irmãos africanos. “Odeia ou ama, apenas para não ficares sentado de braços cruzados. Depois de amanhã, o mais tardar, começarás a odiar-te, porque ludibriaste a ti mesmo, conscientemente. Resultado: uma bolha de sabão e a inércia. Ah, senhores, é possível que me considere um homem inteligente apenas porque, em toda a vida, não pude começar nem acabar coisa alguma. Admitamos que eu seja um tagarela, um tagarela inofensivo, magoado, como todos nós. Mas que fazer, se a destinação única e direta de todo homem inteligente é apenas a tagarelice, uma intencional transferência do oco para o vazio?” Fragmento de Fiódor Doistoiévski em seu belo e triste livro “Memórias do Subsolo”, 1864, mostrando que no inconsciente e consciente de todos os homens existem demônios, demônios vorazes, sanguinários, vampirescos, capazes de sugarem seus semelhantes pelo prazer de “acúmulos de bens materiais”.
É hora de aproveitar as experiências passadas para não repetir o “festival de besteiras que assolam esse país” nas áreas da política, do governo, às vezes ainda da justiça. Ah, se Stanislau Ponte Preta ainda estivesse vivo!

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