Psicanálise da vida cotidiana – Homem, outro poema – 03/05/17

Adão, o primeiro. O primeiro a perder a inocência quando Eva tocada pela Serpente, o Satanás o convida para descobrir a sexualidade. Bendita serpente, trazendo a ideia de que nossa genuidade celestial nos faria sempre celestiais, des-humanos, anjos puros, imaculados. Adão se fez homem por insistência de uma Eva ousada, corajosa, criativa e transgressora. Homem Jó, obediente , justo, correto, aquele que optou por respeitar e amar a Deus, Javé, sem confrontar renunciando a tudo – “ Nasci nu e irei morrer também desnudo”. Não importava a esse homem os bens materiais e sim a graça de Deus.

Cristo homem, humano, que veio para salvar os pecadores e mostrar que a humanidade do homem precisa ser vivida para ter a graça de subir aos céus. Cristo foi amoroso, humilde, generoso, mas também soube ser violento, agressivo, mostrando que o filho de Deus era também gente como a gente. Subversivo, líder do povo, defensor dos pobres e dos menos abastados pelos impérios. O Homem, homem, macho, estúpido em seu preconceito , pretensioso, arrogante que, enquanto perdura em seu machismo fica impedido de conhecer sua masculinidade. Macho é animal, é fera, é lobo, é um ser não diferente dos outros animais. Vive dos seus instintos e necessidades impedido de se dar conta da sua humanidade.

O masculino é uma evolução do animal, é alguém civilizado, aculturado, é uma pessoa. É uma pessoa que carrega dentro de si um casal, ou seja, que consegue tirar proveito de sua parte masculina(o pai) e do seu lado feminino (mãe) sem se sentir macho ou fêmea. Homem criança que é capaz de pedir um colo, de precisar do outro, de chorar sem que isso desaponte sua autoestima. Homem Ulisses, bravo, ousado, corajoso a ponto de saber que a melhor maneira de conquistar era não se deixar seduzir pelo canto das Sereias. Homem Dante, homem Don Quixote, dois crentes no fato de que há de se buscar sempre sua Beatriz ou sua Dulcinéa – a idealização do amor, ainda que a realidade mostre a dolorosa evidência da ilusão.

Homem Beethoven, onde a surdez era externa, mas seu ouvido interno captava e intuía os estados mais emocionantes e afetivos do ser humano. Homem Palhaço, que pode transformar sua tristeza em algo lúdico, algo que faz sorrir uma criança e um adulto chorar. Homem cientista, criativo, fazedor da tecnologia e curiosamente fabricante de um bomba capaz de exterminar sua própria espécie. Homem santo, teólogo: Agostinho, Tomás de Aquino e São João da Cruz. Esse ultimo escreveu um dia: “aquele que tem amor em seu coração não morre de solidão”. Homem Buda, Mandela, ícones da libertação dos oprimidos.

Wallace Stevens, um dos maiores poetas da literatura norte-americana, nascido em Reading, na Pensilvania em 1879. Escuta caro leitor a melodia do seu canto maior, seu poema- O Homem do Violão Azul: “Homem curvado sobre violão,/Como se fosse foice. Dia verde./Disseram: é azul teu violão,/não tocas as coisas como elas são./ E o homem disse: As coisas como elas são/Se modificam sobre o violão./E Eles disseram: Toca uma canção/Que esteja além de nós, mas que seja nós./No violão azul, toca a canção/Das coisas justamente como são.”Homens perversos, corruptos, usurpadores dos impostos sociais, capazes de transformarem a estética e o ideal social de um Niemeyer e um Lúcio Costa em uma Brasília rodeada de Satélites a troco de votos e poder.

Homens criminosos, exploradores do crime, formadores de quadrilhas, mafiosos. Homens pais, generosos, amorosos, mas também isentos de suas funções de formadores da família, dos limites, da ordem e do exemplo de coerência e respeito humanos. Homens afetivos, homoafetivos, que em sua escolha vivem a alegria do reconhecimento da Justiça e ainda de parte da sociedade. Por fim, meus queridos leitores deixo com vocês versos de Jorge Luis Borges, um argentino, cânone da Literatura Ocidental em seu poema – Heráclito:

Heráclito caminha pela tarde de Éfeso/ A tarde o abandonou, sem que sua vontade o decidisse,/Na margem de um rio silencioso/Cujo destino e cujo nome ignora./Há um Juno de pedra e alguns álamos,/Olha-se no espelho fugitivo/E descobre e trabalha a sentença/Que gerações e gerações de homens/Não deixarão cair./Sua voz declara: “Ninguém desce duas vezes às águas Do mesmo Rio”.

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