Igual-Desigual

Todo ser humano corre sua vida à procura do Igual, da cara metade, ou como dizem os psicanalistas, estão sempre em busca do “gêmeo imaginário”.  Por que? De onde vem essa luta incessante para negar a diferença! Será que é tão insuportável tolerar as desigualdades?

Vários autores como Freud, Otto Rank, Borges, Dostoiévski, escreveram belos textos sobre o Duplo. Outro dia pensei, não se casa com igual, pois o desafio é casar com as diferenças. É aí que se instala a noção do Outro, da Alteridade, questão que começa quando o bebê e o infante se surpreendem ao constatar que a mãe não é mais a extensão dele – a mãe é um ser ímpar, diferente, com traços peculiares que atende e não atende o desejo especular de seu filho. A diferença então, marca a singularidade de cada ser. Só existe igualdade na paixão, uma vez que o apaixonado somente enxerga a projeção do seu ser no outro; quando termina a paixão, aí se experiência a capacidade de conviver com as diferenças.

Relendo uma profunda reflexão do poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, em seu poema “Igual-desigual”, apreendo o insight do artista ao descrever em sua última estrofe que diz:

“Todas as guerras são iguais./ Todas as fomes são iguais./ Todos os amores, iguais, iguais, iguais./ Iguais todos os rompimentos./ A morte é igualíssima./ Todas as criações da natureza são iguais./ Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais./ Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem/ bicho ou coisa./ Ninguém é igual a ninguém./ Todo ser humano é um estranho/ Ímpar”.

Somos movidos por um mal de raiz, a inveja. No entanto, ao contrário do que se pensa, o sentimento invejoso tem uma especificidade – apreende as qualidades boas dos outros; a questão é que quando não se tem o que o outro tem, dói e aí vem o ataque invejoso, pois denegrindo o bom do outro, se neutraliza a dor da inveja. É natural e óbvio que o ser humano quer ter tudo de bom que os outros têm, mas a diferença marca a humanidade. Nem Marx conseguiu igualizar as classes. Que beleza poetiza o poeta: “todo ser humano é um estranho e ímpar”. Drummond sabia dessa especificidade necessária de sermos nós mesmos apesar das diferenças.

Que bom é ser si próprio, não ser uma cópia, nem uma folha em branco. Que fantástico é ser-si-mesmo! Que coisa horrível é passar a vida sendo “personagens em busca de um autor”, como dizia Luigi Pirandelo, um verdadeiro psicanalista silvestre! É sabido que a vida começa pela imitação do Outro como principal referência em busca da identidade. O verdadeiro Ser é aquele que sabe que é e não é, em busca do aprimoramento da sua essência própria. “Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem”, sempre soube o “gauche, itabirano das Gerais”

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