Psicanálise da vida cotidiana – O ano de 2016 – 28/12/16

Nosso país continua no “estado de império”. Capitania hereditária se mantém em várias regiões por demais conhecidas. Grupos familiares compõem agremiações políticas e dominam a governabilidade a favor de seus próprios interesses. De ponta a ponta vemos conluios políticos sem nenhum compromisso com a democracia, com a distribuição de renda, sem nenhuma política de sustentabilidade que assegure um futuro promissor e deixe a população menos desesperada.
 
Conflitos entre os Poderes da República(?), conchavos entre os administradores, gestores da nação, preocupados em fazer política para o próprio bem e não em favor da população. Corrupção, roubos escandalosos, verbas desviadas, uso do dinheiro público para beneficíos de suas Capitanias. Promessas não cumpridas, obras superfaturadas, discursos retóricos mentirosos, aprovação de projetos até para isentar de culpa e responsabilidade das falcatruas cometidas entre o próprio governo e algumas empresas privadas. Investigação perfeita da República de Curitiba, apelidada de “Lava Jato”, tenta e faz com veemência, um trabalho de limpeza dos assaltos cometidos pela classe dominante.
 
Insegurança, precária de capacidade de gestão, influências políticas nas escolhas de cargos, ausência quase total da bendita meritocracia, enfim, estamos mergulhados numa situação perigosa, delicada, que a cada dia ameaça a manutenção dos direitos básicos da coletividade e da manutenção dos princípios democráticos. Não se enxerga o futuro, não se acredita na restauração da saúde pública, da educação, da habitação e de uma política justa de salários. Cresce a distância entre os poucos ricos, bilionários e as classes menos favorecidas, endividada, enganada na aquisição de bens, de educação e de saúde. A dita “classe média” do populismo morreu, perdeu seu poder aquisitivo e mal se alegrou, despencou na melancolia da dívida, da pobreza e da mentira do sonho prometido. O “Inferno de Dante” é aqui, no nosso país. Descemos do purgatório para o inferno! Aos céus, foi reservado para uma pequena minoria de detém o poder político e a riqueza assaltada como o dinheiro dos nossos impostos! A Copa do Mundo perdemos feio; as Olimpíadas, estamos assistindo ao rombo de obras superfaturadas e alguns, ainda alguns dos seus feitores incriminados pela Justiça. As estradas esburacadas, interminadas; as cidades em guerra permanente com facções criminosas, assaltos, estupros, completa falta de segurança pública. A Cultura tem como maior exemplo a derrocada total do Teatro Nacional em Brasilia, metáfora do cuidado com a Cultura e as Artes nessa “pátria educadora” há quinze anos( e continua). Não se concebe um povo que não seja aculturado e politizado, fatores que colocam em risco a manutenção das nossas Capitanias Hereditárias.
 
Recordo-me de um livro de Alberto Pucheu e Eduardo Guerreiro(organizadores) —“O Carnaval Carioca de Mário de Andrade”, Editora Azougue. No capítulo – “Niilismo e Experiência Dionisíaca em Mário de Andrade, o autor do ensaio, Eduardo Guerreiro Brito Losso escreve: “Há vários outros momentos da poesia de Mário em que a sensibilidade poética exibe expressões de decepção e depressão: repete-se o verso “Nada de poesia, nada de alegrias!”(Andrade, 1982, 51 e 53), “Nada de asas, nada de alegria…A lua…”(Andrade, 1982,61), “Estou com desejos de desastres…/ Tenho desejos de violas e solidões sem sentido? Tenho desejo de gemer e de morrer” (Andrade, 1982,132), “Que engraçado!…mas…que tristeza!/ Esta vida não vale mais nada!”(Andrade, 1982,205). Em “Lira paulistana” há mais exposição das decepções com São Paulo e com o país:”Eu só vejo na função/ Miséria, dolo, ferida,/ Isso é Vida?(Andrade, 1982,335).
 
“Pois nada vale a verdade
Ela mesma está vendida.
A honra é uma suicida, 
Nuvem e felicidade,
E entre rosas a cidade,
Muito concha e relambórica,
Sem paz, sem amor, sem glória,
Se diz terra progredida,
Eu pergunto:
Isso é vida?”.
 
Trinta e quatro anos se passaram quando forem feitos esses versos! Evoluímos tecnicamente, sim; humanisticamente somos um desastre, um barbarismo evidente, acalentamos (os mais ricos e poderosos ) a manutenção de um capitalismo que muda sempre de nome mas que não se transforma, sim; perpetuamos governos de direita, de esquerda, sim. Uma coisa se mantém no “Grande Sertão Veredas”: as capitanias hereditárias, o latifúndio, a corrupção desvairada e as “eleições encomendadas” sob a égide de conluios partidários mantendo o desejo do empresariado corrupto, partidos que enriquecem seus servos com propinas e vantagens pessoais e familiares.
E o Povo gritou, nas ruas! A surdez e a cegueira continuam salvo alguns estertores da república curitibana.

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