“Saia agora do meu camarim/Vá destilar seu veneno, longe daqui/Retoque a boca borrada./ Tente um batom carmin/ Deixe tudo inteiro, isqueiro, espelho, tocador, benjamin/ Preciso estar bem/ Pois vou entrar agora/ E quero cantar lindamente/ Pois a platéia presente/ Veio esperar por mim.
Você bem sabe/ Que poderia ter sido/ tudo diferente!/Agora quero você ausente/ Vá pra correndo pra casa/ E pense no que faz/ Aprenda com seus erros/ Chore sobre os travesseiros/ E tente dormir em paz.
(Música e letra de Eraldo S./Luiz Pinheiro)
A música e letra dos compositores acima citados se presta para várias metáforas. Vou, por ora, dar ênfase à crise que vivemos atual no nosso Brasil, com relação ao preconceito, ódio, inveja e desespero com a Cultura Artística. “Saia do meu camarim…” Não destrua a beleza da Arte com um sentimento paranoide de que a cultura destrói ou compromete o crescimento individual e coletivo; deixa as coisas como estão, não as destruas nem aniquilem a história cultural de uma nação, reduzindo a credos místicos-religiosos com uma moral preconceituosa sob a racionalização defensiva de que a ideia de Pecado é o referencial humano. “Eu quero cantar lindamente”: queremos criar, pensar, desenvolver, pesquisar e enfatizar o que chamo de “humanismo pós-moderno. Não inveje os aculturados, não “destilem seu veneno”, queimando bibliotecas, diminuindo verbas à Música, ao Teatro, às Artes.
Uma nação não progride nem se desenvolve sem os recursos da Ciência, da Filosofia e das Artes. Conhecimento não é feito para partidarismos fanáticos, tanto de esquerda como de direita; conhecimento é o caminho da evolução humana desde os gregos, mesmo com a interferência de várias religiões. “Vá correndo para casa… pense no que faz… aprenda com os erros … pois senão ninguém dormirá tranquilo nem sonhará os sonhos da invenções, dos projetos, tanto na Academia quanto na sabedoria das Ruas. “Retoque a boca borrada”, tenha respeito e compaixão pela Verdade, ainda que relativa às Artes, Ciências, Filosofia e da Teologia. Retirem das contendas opositórias, do fanatismo fundamentalista dos partidos políticos, um projeto de sociedade mais justo, democrático, humanista e eclético. Somos um país miscigenado, mas de “homens partidos” como um dia poetou Drummond, porém respeitem a mistura, pois é dela que sairá um invariante de justiça social. “Chore nos travesseiros”, antes de destruir o que ainda nos resta de humano, civilizado.
Sou grato a Luiz Pinheiro que me ofertou o disco: “Luiz Pinheiro – Decompor, Canções do Subsolo, 2009/2010, e me proporcionou esse breve improviso.