Psicanálise da vida cotidiana – Os benefícios de uma boa psicanálise – 03/10/18

           

       

          A Psicanálise é uma tarefa transformadora, mas ao mesmo tempo temerosa. Temerosa, pois é através dela que podemos ter acesso à intimidade de nós mesmos no caminho de nos defrontarmos com nossa parte selvagem, instintiva e diabólica, assim como com a nossa capacidade amorosa, às vezes obstruída.  

Ainda que o prazer do conhecer a si mesmo venha tempos após, a travessia exige uma ousadia e coragem que poucos estão disponíveis para vir a saber; principalmente nos dias atuais onde não encontramos mais as “neuróticas” de Freud, na confortabilidade de uma “análise das valsas de Viena”. A demanda atual é mais de transtornos borderline, síndromes do pânico, depressão e sintomas pré e psicóticos da personalidade.  

No entanto, a análise é uma necessidade de fazer uma viagem dentro de nós, na companhia do parceiro-analista, com o objetivo de conhecimento daquilo que não conhecemos ou tememos conhecer em nós mesmos. Usando como metáfora num belo texto de Georges Bataille em seu livro A Experiência Interior, encontramos em suas reflexões a seguinte questão: “Só nos desnudamos totalmente indo sem trapaças rumo ao desconhecido. É a parte de desconhecido que confere à experiência de Deus – ou do poético – sua grande autoridade…. Deus difere do desconhecido pelo fato de que uma emoção profunda, vinda das profundezas da infância, liga-se imediatamente em nós sua evocação. O desconhecido, ao contrário, deixa-nos frios, não se faz amar antes de derrubar todas as coisas em nós como um vento violento”. Daí a capacidade de acolhimento afetivo dos psicanalistas para que os analisandos possam vir a lidar de uma maneira menos dolorosa com “suas loucuras”.

O desconhecido para nós analistas e analisando é o Inconsciente, lugar onde Freud deixou um legado de traumas, experiências recalcadas, foracluídas, que precisamos, como afirmou o próprio Freud, através da análise, suportar o retorno do recalcado para elaboração de ideias e sentimentos outrora insuportáveis. Com a ajuda dessa transformação, esses fantasmas se tornam mais convivíveis, mais toleráveis, menos assombrosos, podendo-se tirar proveito deles para uma vida interior e de relação, melhores.

 

Deixo o leitor com um insight fantástico de Bataille: “Essas ilusões nebulosas, nós as recebemos com a vida como um narcótico necessário para suportá-la. Mas o que é de nós quando, desintoxicados, aprendemos aquilo que somos? O sofrimento que se confessa do desintoxicado é o objetivo deste livro”. 

 

 

 

Carlos de Almeida Vieira – Médico psiquiatra, Psicanalista da SPBsb e da SBPSP (São Paulo), Membro da Federação Brasileira de Psicanálise –  FEBRAPSI e da International Psychoanalytical Association – IPA


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