Pátria educadora

 

Nosso país ainda não pode dar-se ao direito de afirmar que somos uma “pátria educadora”. É uma evidência como é tratada a Educação, onde o nível é baixo, ainda que milhões de crianças hoje frequentem mais às Escolas. Frequentar não significa nada num sistema educacional precário, professores ganhando salários baixíssimos e a qualidade do ensino não brinda um ensino humanitário. A tônica da Educação e Cultura é a praga do consumismo e da tecnologia! Os governos substituíram o Projeto de Educar por melhores condições materiais-consumistas, criando uma sociedade líquida, vazia, ávida mas predominantemente depressiva. Imaginem que há pouco tempo foram aprovadas várias modificações em textos de Literatura, onde as edições foram condensadas e as palavras dos autores trocadas por sinônimos absurdos. Justificativa: Machado de Assis e outros tantos clássicos escreviam complicado e os alunos teriam que consultar os dicionários! Daí o que se leem? Falsificações dos textos originais! E o que se aprendem? Não Machado, Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, mas as traduções de alguns professores que deveriam ser punidos assim como o Estado, que subvencionou milhões para essas “abreviaturas monstruosas” da linguagem real nos nossos escritores.
Ainda que com preços salgados, pois os livros no Brasil, mesmo editados em papel mais barato, não são subvencionados pelo Ministério da Educação e da Cultura como no Reino Unidos e nos Estados Unidos, a Companhia das Letras acaba de lançar uma nova edição de uma obra importante e básica da nossa Literatura —“Carlos Drummond de Andrade – Nova Reunião, 23 Livros de Poesia.
Nenhum poeta mais representativo da Poesia Brasileira do que Drummond é assim homenageado! Claro que seria injustiça da minha parte esquecer outros tantos ícones da Literatura Nacional. Drummond foi poeta, cronista, tem vários livros de prosa, e sem sombra de dúvida, foi o introdutor mais arrojado do Modernismo junto com Mário de Andrade. Seu livro, agora editado como “Nova Reunião” abrange sua obra poética desde “Alguma Poesia”, de 1930 até “Farewell (despedida) de 1996. Bela obra para se ler, reler e fazer consultas e pesquisas por aqueles que se interessam em estudar o pensamento do Itabirano. Carlos Drummond foi além de poeta, uma pessoa envolvida politicamente, basta estudar os poemas “Sentimento do Mundo”, “José” e “A rosa do povo”. De Itabira à cidade de Belo Horizonte, e daí para o Rio de Janeiro, Drummond fez parte de Governos, cantou a liberdade e injustiça social, e ofereceu uma obra de cunho poético, de prosa, crônicas em vários Jornais do país, e principalmente de estilo filosófico-existencial, além de ter uma sensibilidade extraordinária para captar a “realidade psíquica” das pessoas e a angústia permanente dos Poetas, no ato de “Procura da Poesia”, um de seus poemas que todo poeta, escritor, cientista deveriam se debruçar sobre ele.
Passeando nesse livro atual, encontrei um poema que acho atual e significativo para o momento crítico que nossa Nação atravessa. É claro que é uma metáfora, mas o leitor, com sua sensibilidade, poderá abstrair a verdade cantada nesse poema que se chama: “O Sobrevivente”. Poema do início, de 1930, fazendo parte do livro: “Alguma Poesia”, livro dedicado a Mário de Andrade, e o poema vai dedicado ao seu amigo, mineiro, Cyro dos Anjos. Reflitamos sobre o mesmo, lendo, como diz um dos maiores críticos da Literatura Universal, Harold Bloom — a poesia não é para se ler, é para se declamar em voz alta, para si próprio, várias vezes, até que o leitor sinta em seu íntimo que o poeta escreveu para ele, caso contrário não será Arte.

“O Sobrevivente”

“Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade./ Impossível escrever um poema —-uma linha que seja — de verdadeira poesia./ O último trovador morreu em 1914./ Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples./ Se quer fumar um charuto aperte o botão./ Paletós abotoam-se por eletricidade./ Amor se faz pelo sem-fio./ Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoraram
E matam-se como percevejos.
Os percevejos heroicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema)

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