Psicanálise da vida cotidiana – Platão Atualíssimo! – 21/11/18

           

                             “…a espécie humana não porá fim nos seus males antes que a espécie daqueles que se dedicam à filosofia na retidão e na verdade alcance o poder, ou antes que aqueles que exercem o poder nas cidades se dediquem verdadeiramente, por favor divino, à filosofia”. (Platão in Carta aos Amigos).

 

             Revisitando um belo livro Platão-Cícero-Plutarco: Amigos & Inimigos, como identificá-los, Editora Landy, 2009, encontrei algumas ideias de Platão, que merecem atenção aos dias atuais. Há uma carta do filósofo aos familiares e aos partidários de Díon (Díon, filho de um primeiro Hipparinos, era aliado a Dionísio, o Ancião, tirano de Siracusa). A carta foi endereçada a Díon e pode ser, hoje, endereçada aos nossos jovens. A preocupação de Platão era fazer parte dos que conduziam a Política, examinando leis e costumes, sem contar com Amigos e Partidários fiéis.

Amigos e partidários fiéis, penso eu, coisa rara no âmbito político e do poder, pois o que assistimos em nosso Brasil, desde o Império, são amigos aqueles que se agrupam para governar em proveito próprio e não voltados à “coisa pública”, à República. Ainda que alguém possa criticar o “modo romântico” (platonismo), a crença no ideal, vemos na citação acima que se dedicar à Filosofia e a Ciência Política é coisa rara em nos legisladores e governantes.

Exceto alguns, são poucos os representantes do povo, os que têm formação acadêmica-humanista e se cercam de representantes íntegros da nossa intelectualidade. Platão mostra a Díon que, o que ele observava quando de passagem à Italia era o que chamou de “moda da Itália e de Siracusa”. Eis as palavras do filósofo: “essa vida em que nos empaturramos duas vezes por dia  e nunca nos vemos sozinhos na cama à noite, com tudo o que se segue. São costumes que jamais permitirão a homem algum do mundo que os tiver seguido desde a infância tornar-se sábio, por mais admiráveis que sejam suas disposições naturais, e menos ainda tornar-se um dia temperante; diria o mesmo acerca das outras virtudes.

Do mesmo modo, nenhuma cidade poderá saber o que é tranquilidade, ainda que regida por leis estritas, se os cidadãos imaginam que é preciso gastar desmesuradamente e acham que só é necessário fazer boa comida e beber, consagrando toda a sua energia nas suas buscas amorosas. Cidades desse tipo, forçosamente, não param de passar por todas as formas de governo: tirania, oligarquia e democracia, e os homens no poder não aguentam ouvir falar de governo justo, em que a lei seria a mesma para todos”.

Desculpem-me, caro leitor, pela a grande citação de Platão, mas acho desnecessário me alongar, até por falta de espaço, mas é mister lembrar, principalmente aos novos governantes a sabedoria e contribuição de Platão nesse momento atua.

 

 

Carlos de Almeida Vieira – Médico psiquiatra, Psicanalista da SPBsb e da SBPSP (São Paulo), Membro da Federação Brasileira de Psicanálise –  FEBRAPSI e da International Psychoanalytical Association – IPA


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