Reforma política – da compulsão à repetição

O governador de Alagoas, Osman Loureiro, anuncia um grande plano de construção de escolas em todos o estado, prometendo não deixar nenhuma criança sem educação. Ao saber da decisão do governador, o diretor da Instrução Pública, escritor Graciliano Ramos, critica o plano ‘Educação, a nova ideologia’, de Emil Farhat.

Essa besteira é para atender a compromissos eleitorais e nomear as meninas professoras, sob recomendações… As escolas já existentes vivem vazias porque os ‘os bichinhos’ vêm, desmaiam de fome e depois não voltam mais… Antes das novas escolas precisamos de mais dinheiro e mantimentos para construir cozinhas velhas nas velhas escolas. E fazer merendas para os ‘bichinhos’ aguentarem as aulas.

O governador não recua:

Essa é a minha última palavra.

Graciliano, seco:

A minha é adeus, excelência.

Últimas palavras, artigo de Ailton Santos, posto no livro Graciliano Ramos – Conversasorganizado por Ieda Lebenssztayn e Thiago Silva, Ed. Record, 2014.

“Compulsão à repetição” é um conceito freudiano que alberga vários sentidos. O mais grave de todos se refere ao fato de que a necessidade compulsiva em repetir é uma forma defensiva para não mudar, não fazer transformação no “estabelecido”, pois o novo é uma ameaça a sair da zona de conforto, no caso, um estado de não crescimento, tanto do ponto de vista individual quanto social.

De que cor o Congresso Nacional seria iluminado após a recente “reforma política” feita pelos nossos legisladores? Negro, lúgubre, cinzento, sem cor? Seria interessante procurar uma cor que representasse o “câncer da política” que vivemos hoje!

Progressos são ínfimos na tal da reforma, pois no todo fica a repetição de um modelo que só beneficia aos próprios parlamentares e às “meninas professores” como diz o nosso querido “Velho Graça”. Alguma outra “promessa” para 2020 é perigosa.

O que acontecerá até lá? Mais alguns anos de conluios e nenhuma preocupação com a demanda do povo, com os gritos nas ruas, ou seja, com uma reforma que a prioridade venha a ser a melhoria das condições de vida, o crescimento de uma democracia incipiente, uma esperança para os nossos filhos e netos, um país do subdesenvolvimento.

O avanço da tecnologia e de uma economia neo-liberal perversa não cria mudanças, a não ser a seriedade de um modelo humanístico que tenha a educação como meta primária. Somos filhos do “sertão” de Graciliano e Guimarães Rosa; somos consequência da “foice e faca afiada” de João Cabral de Melo Neto; somos pobre herdeiros do “império português” que trouxe a corrupção como forma de “progresso”. O Rei ainda está nu, o Rei mais do que nu, está cego ou como Narciso, só enxerga a sua própria imagem nas águas do rio, e não consegue transformar, como disse um psicanalista indo-inglês, W.R.Bion “o narcisismo em social-ismo” para não confundir com socialismo.

Freud também alertava que a “a compulsão à repetição” era um sinal da força da Pulsão de Morte!

Em 1930, Graciliano escreveu, em Memórias de um cárcere: “Arriscara-me a fixar a decadência da família rural, a ruína da burguesia, a imprensa corrupta, a malandragem política, e atrevera-me a estudar a loucura e o crime. Ninguém tratava disso, referiam-se a um drama sentimental e besta em cidade pequena.” 

 

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