“Quem é um homem revoltado? Um homem que diz não. Mas, se ele recusa, não renuncia:é também um homem que diz sim, desde o seu primeiro movimento. Um escravo, que recebeu ordens durante toda a sua vida, julga subitamente inaceitável um novo comando. Qual é o significado deste “não”?”
Albert Camus, in “O homem revoltado”.
A cultura do homem brasileiro ainda carrega, hoje, os restos nocivos e destrutivos da Escravidão. Somos livres de pensamento? Somos ou temos uma identidade política? Somos civilizados, modernos, pós-modernos? Ou estamos ainda estagnados olhando para o fundo da “caverna de Platão”, onde o que predomina são sombras, ou as marcas infinitas do poder dos “coronéis”, numa relação sadomasoquista com seus escravizados? A mudança, a transformação só é possível como resultado da elaboração do “homem revoltado de Camus”.
Albert Camus,1913-1960, escritor, ensaísta, teatrólogo e filósofo de origem Angelina, viveu sua breve vida na França, ligado ao Movimento Existencialista, amigo e depois crítico de Jean-Paul Sartre. Uma de suas mais famosas obras, além de outras, é claro, é “O Homem Revoltado”, traduzido para o português pela Editora Record, Rio de Janeiro, 2017, 11ª. Edição. Revolta, diz Camus, não é o império do ódio, a resignação do suicida, a destrutividade ideológica do homicida, (Partidos Políticos, Ideologias Idealizadas por excesso, e outras formas de Governos Totalitários. Qualquer forma de governo, qualquer ideologia extremada é homicida (coletiva) e impede uma abertura para novas expansões do “humanismo pós-moderno”, caso contrário repetiremos sempre a obediência do escravo ao senhor, ou a manutenção da barbárie.
A questão atual, diante do estado atual político brasileiro não se resume a pessoas administrando o poder. Não se trata de “salvadores”, pois os mesmos jamais estiveram empenhados no sentido político-social. Não existem “salvadores”, “Deus está morto”, concorda Camus se unido a Dostoiévski em seu belo, profundo, literário e filosófico livro –“Os Irmãos Karamázov”.
Sem saúde, sem educação, não existe a possibilidade de transformação da cultura de um povo. Continuamos a assistir às atitudes hipócritas de uma maioria de intelectuais, do egoísmo da classe média e dos governantes, recusando saírem da sua área de conforto; dos políticos e governistas imbuídos em acumulação de poder e de acumulação de mais riquezas.
Estamos, praticamente às vésperas de novas eleições maiores (presidente, senadores e deputados), possíveis representantes do povo brasileiro? E o que observamos? Os mesmos métodos conservadores, “imperiais”, onde o interesse maior não são Políticas Públicas, e sim, a manutenção da barganha partidária para continuar a “ideologia do coronelismo”. Ainda que existam políticos jovens, éticos, sérios(?), o mais importante é a consciência política da população. E temos? Desconfio, sou pessoalmente incrédulo, pois a não-cultura do povo, escravizado por falta de educação, saúde, alimentação, condições subumanas de viver, somada à alienação dos jovens perdidos, consequência da falta de estrutura familiar, religiosa não fundamentalista, ética, oriundas do Narcisismo patológico da classe média, onde o desejo é se manter em sua área de conforto, com seus salários excepcionais, responsável pela perpetuação de uma cultura medieval e aristocrática.
Nossa nação e nosso mundo, lembrando A. Camus, “não estará mais dividido em justos e injustos, mas em senhores e escravos”…”A conclusão última do raciocínio absurdo é, na verdade, a rejeição do suicídio e a manutenção desse confronto desesperado entre a interrogação humana e o silêncio do mundo”, conclusão a que o autor expõe de modo filosófico, mítico e atual, na importância do Mito de Sísifo.
Não é mais momento de direita, esquerda e centro, festivos e radicais. É hora de mudar o que escreveu S. Freud em seu brilhante conceito-clínico sobre a “A Compulsão à Repetição”. Não sairemos do “submundo dostoievskiano” nem das garras avarentas, vorazes e vampirescas dos nossos “pais portugueses”. Seremos tribos sempre dominadas pelo governo e os jesuítas transvestidos do Sermão da Montanha de Deus!
Eleição sem consciência política é manter o País no cabresto dos dominadores, e não adianta reclamar, pois a responsabilidade e culpa pertencem a nós mesmos. Leia-se a “Servidão Voluntária” de Étienne de La Boétie.
“Os pregadores do materialismo e do ateísmo, que proclamam a autossuficiência do homem, estão preparando indescritíveis trevas e horrores para a humanidade sob pretexto de renovação e ressureição”.
“Diário de um escritor”, de Dostoiévski.