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Psicanalista apresenta tema sobre binaridade /não binaridade nas teorias freudianas
Em evento promovido pela SPBsb, Ana Clara Gavião expõe o trabalho “Um fio da meada e um telefone sem fio: binaridade nas teorias freudianas”
Nesta quarta-feira (28), a psicanalista Ana Clara Duarte Gavião participou de evento online organizado pela Diretoria Científica da Sociedade de Psicanálise de Brasília (SPBsb). Ela abordou temas centrais da teoria psicanalítica, especialmente a relação entre as fundações freudianas e as discussões contemporâneas sobre sexualidade e epistemologia na psicanálise. A especialista é membro efetivo da Sociedade de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) e mestre e doutora em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
A diretora científica da SPBsb, Nize Nascimento, destacou que Ana Clara Gavião, entre fios e ecos, retoma Freud não como monumento, mas como um movimento, uma vez que é um pensador atravessado pela escuta do estranho e do inclassificável.
“Ao recuperar a bissexualidade psíquica e a pulsação não normativa da sexualidade, Ana Clara desfaz os ruídos do telefone sem fio, que ela nos traz nessa bela metáfora que distorcem a teoria e encontra, no fio da meada, uma psicanálise viva, investigativa, aberta à diferença e sensível às margens. É nesse gesto ético e epistemológico que a especialista sustenta a psicanálise como prática de acolhimento do que escapa à binaridade — no desejo, na linguagem e na clínca ”, pontuou a diretora.
Durante a conversa, Ana Clara destacou a importância do debate sobre o “fio da meada” das teorias psicanalíticas, uma metáfora que ela utiliza para refletir sobre a transmissão e a preservação dos conceitos freudianos em um contexto de mudanças sociais e culturais aceleradas. “A questão não é apenas manter as teorias como estão, mas compreender até que ponto elas podem se transformar para continuar relevantes”, afirmou.
Ela reforçou que Freud foi um homem de seu tempo, dentro dos contextos sociocultural e geopolítico do início de século. No entanto, suas contribuições permanecem atuais, sobretudo na compreensão da complexidade da mente humana e da sexualidade. Ela destacou que há duas correntes de pensamento: uma que valoriza os fundamentos freudianos, reconhecendo sua inovação e validade, e outra que vê esses conceitos como ultrapassados, impregnados de moralismo e machismo, e, portanto, incapazes de dialogar com a clínica moderna.
Teoria dos sonhos
A especialista também abordou a evolução do modelo de mente na psicanálise, reforçando que os avanços posteriores só tiveram sentido porque se apoiaram na estrutura freudiana original. Ela lembrou da importância da teoria dos sonhos, da distinção entre inconsciente e consciente, e da sexualidade infantil, elementos que continuam sustentando as práticas atuais.
Outro ponto central da sua fala foi a discussão sobre a sexualidade, uma temática que ganha destaque no próximo Congresso da Febrapsi (Federação Brasileira de Psicanálise), cujo tema é “Sexualidade: o tumulto das diferenças”. O evento vai acontecer entre os dias 22 à 25 de outubro, em Gramado (RS). A autora enfatizou a dualidade presente na teoria freudiana — de um lado, a abertura para a diversidade de manifestações sexuais, incluindo as neossexualidades e a não binaridade; de outro, a criticidade de uma visão que ainda reforça a diferença binária entre masculino e feminino, muitas vezes patologizando a diversidade.
A psicanalista também comentou que as novidades na psicanálise, feitas por outros autores depois de Freud, só fazem sentido porque se basearam na estrutura criada por ele. Ela falou sobre a importância de entender os sonhos, os sentimentos inconscientes e a sexualidade infantil, que continuam sendo temas essenciais na prática clínica.
Outro ponto importante foi a discussão sobre a sexualidade. Gavião destacou que, na teoria freudiana, há uma grande abertura para diferentes formas de sexualidade, incluindo as que desafiam o padrão binário de homem e mulher. Mas ela também apontou que, às vezes, a psicanálise ainda reforça essa divisão, o que pode acabar patologizando quem tem uma sexualidade diferente.
Para terminar, ela reforçou que a psicanálise precisa continuar conversando com o mundo de hoje. “A transmissão das ideias é como um telefone sem fio: é preciso cuidar para que a mensagem não se perca ou se distorça ao passar de uma pessoa para outra”, concluiu.
O encontro contou com a participação (de profissionais) de membros da SPBsb e do IPVLB, membros de outras Federadas assim como a participação do público externo que tiveram a chance de fazer perguntas e trocar ideias com Ana Clara Gavião, fortalecendo o diálogo sobre as raízes e os caminhos da psicanálise atual.
